Jubileu dos Pescadores e Marisqueiras em Tairu, fé lançada ao mar e tradição que se renova

Celebração da Forania 10 reúne mais de 300 pessoas em um encontro de devoção, trabalho e cultura

Por Gilsimara Cardoso

Festa do Jubileu de Pescadores e Marisqueiras, em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

No último domingo,19 , a comunidade de Tairu, em Vera Cruz, viveu um dia de fé e de tradição à beira-mar. A Festa do Jubileu dos Pescadores, organizada pela Forania 10, transformou a praça central em um verdadeiro espaço de celebração. Onde o sagrado e o popular se entrelaçaram em um mesmo gesto, o de lançar as redes ao mar, em busca de bênçãos e fartura.

Festa do Jubileu de Pescadores e Marisqueiras, em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

A missa, realizada na Praça de Tairu, reuniu cerca de 300 pessoas, entre pescadores, marisqueiras, religiosos e visitantes.

O momento mais simbólico da celebração veio com a jogada de rede, quando a fé se materializou no movimento coletivo de mãos calejadas e corações esperançosos.

Festa do Jubileu de Pescadores e Marisqueiras, em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

Dessa vez, a comunidade, pescadores experientes, freiras, padres e turistas se uniram para abrir e lançar a rede nas águas.

Festa do Jubileu de Pescadores e Marisqueiras, em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

Como manda a tradição, o peixe fica para quem ajuda a puxar a rede. Contudo, neste Jubileu, os devotos foram presenteados com o fruto do mar. A predominância do peixe-galo chamou a atenção e foi recebida como sinal de sorte.

Milton Lima ( camisa cinza) , Festa do Jubileu de Pescadores e Marisqueiras, em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

Entre os mais animados estava Milton Lima, conhecido como Tinho, pescador há décadas na região. “Eu acho importante para nossa comunidade, e hoje os pescadores estão fazendo junto com a Igreja. A gente vê um momento como esse e é muito bom!”, ressalta com sorriso no rosto.

Lêda Lima, na Festa do Jubileu de Pescadores e Marisqueiras, em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

Entre os rostos marcados pelo tempo e pela sabedoria, estava Dona Lêda Lima, uma das matriarcas mais respeitadas de Tairu. A presença firme e serena dela iluminou o Jubileu com a força de quem carrega nas memórias as antigas pescarias de calão, tradição que há gerações movimenta a comunidade.

Festa do Jubileu de Pescadores e Marisqueiras, comunidade de Tairu – Foto: Kiko Silva

Nessa modalidade, homens e mulheres se reúnem ao amanhecer para lançar e puxar juntos uma grande rede, um gesto coletivo que simboliza partilha, união e fé nas bênçãos do mar.

Lêda Lima, na Festa do Jubileu de Pescadores e Marisqueiras, em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

Com o olhar humilde e ao mesmo tempo cheio de gratidão, Dona Lêda observava a movimentação na praia enquanto os pescadores lançavam as redes.

Entre uma prece e outra, entoou cânticos de louvor, acompanhando com a voz doce o som das ondas. “Eu sempre venho aqui olhar o mar, hoje tá bonito. Júlia não pôde vir, porque está em Brasília”, contou, referindo-se à amiga e também matriarca Dona Júlia Lima, outra figura querida da pesca tradicional.

A presença de Dona Lêda, com a fé silenciosa e as lembranças de tempos antigos, deu à festa um sentido ainda mais profundo, o de continuar honrando o mar, a vida e as mãos que sustentam a tradição.

Protagonismo feminino

Luciana Barretos, na Festa do Jubileu de Pescadores e Marisqueiras, em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

A celebração também destacou a força feminina que move a pesca em Tairu. Entre essas mulheres, Luciana Barreto, marisqueira e pescadora, é uma figura essencial na comunidade.

Com dedicação diária, ela joga e puxa a rede, trata o peixe e ainda comercializa. A presença, firme e serena, torna-se símbolo de resistência e inspiração.

Para Luciana, o reconhecimento é um passo importante. “O importante é o nosso reconhecimento, pescadores e marisqueiras, né? Sendo vistos, que antigamente não era assim. Que venha a pesca de calão e traga muitos benefícios pra gente, porque a gente pesca o ano todo, o siri, a ostra, o chumbinho e graças a Deus não nos falta”, afirma.

Luciana Barretos, na Festa do Jubileu de Pescadores e Marisqueiras, em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

Além disso, na pescaria, Luciana representa o elo entre o mar e a mulher. A força dela traduz a beleza e a coragem de tantas trabalhadoras que enfrentam o sol e o sal diariamente. Assim, reafirma-se que fé e luta caminham lado a lado.

Solidariedade no Jubileu dos Pescadores e Marisqueiras

Festa do Jubileu de Pescadores e Marisqueiras, em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

Enquanto a rede era puxada no mar, a solidariedade já havia se espalhado pela praça. Assim, a comunidade montou uma barraca de salgados, com o objetivo de arrecadar fundos para a reforma da igreja matriz.

Edna Rita Velasques, na Festa do Jubileu de Pescadores e Marisqueiras, em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

À frente das vendas, estava Edna Rita Velasques. “Tudo aqui foi arrecadado para vendermos em prol da igreja. Nossa matriz está em reforma e precisamos ajudar. Além disso, temos todos os tipos de salgados… portanto, temos que trabalhar se quisermos que a nossa matriz fique bonita”, explica Edna.

A Forania 10, responsável pela celebração, reúne as paróquias Santo Amaro de Jiribatuba (Vera Cruz), Santíssimo Sacramento (Itaparica), Sagrado Coração de Jesus (Vera Cruz) e Nossa Senhora do Carmo (Salinas).

O vigário Padre Carlos Manuel Aquino ressaltou a importância desse trabalho conjunto. “A Forania 10 é formada por quatro paróquias, que caminham juntas em ações de fé e de fortalecimento comunitário”, informa.

Festa do Jubileu de Pescadores e Marisqueiras, em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

Mais do que um evento religioso, o Jubileu dos Pescadores reafirmou o elo entre fé, cultura e identidade. Em cada oração e em cada peixe lançado, a comunidade de Tairu renovou a esperança e lembrou que o mar, assim como a vida, sempre devolve o que é semeado.