De uma visão no mar nasceu um ritual que une gerações em torno da mesa de caruru

Por Gilsimara Cardoso

Seu Elias, praia de Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

O vento soprava forte no sábado, 27, mas nem isso tirou o calor humano que se espalhava na orla de Tairu. O bar de Seu Elias, ponto de encontro de famílias nos fins de semana e cenário de verões inteiros à beira-mar, se transformou em um templo de fé, devoção e sabor.

Caruru de Seu Elias em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

Onde antes havia mesas ocupadas por turistas e moradores entre mergulhos e risadas, desta vez havia um ritual de devoção. Os sete meninos sentados na mesa à espera do caruru, como manda a tradição de São Cosme e Damião.

Caruru de Seu Elias em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

Alto, de pele clara, cabelos grisalhos e sorriso contagiante, Elias Mota de Azevedo, conhecido popularmente com Seu Elias, é daqueles personagens que parecem nascer junto com a comunidade. Comerciante antigo, dono de um bar que já viu gerações passarem pela praia, ele não gosta de aparecer.

Modesto, prefere servir a estar em evidência. No entanto, neste sábado não houve como se esconder, era dele a festa, era dele a devoção. Mais do que um comerciante, Seu Elias é também um defensor da terra, das tradições e dos povos da comunidade de Tairu, vivendo, assim, em harmonia e ajudando a todos em volta dele.

Caruru de Seu Elias em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

O caruru nasceu, segundo ele conta, de uma visão. Uma luz vinda do mar, uma revelação a uma senhora, e a partir daí outras tantas aparições que fortaleceram sua fé. “Eu era um católico assíduo, mas hoje tenho ainda mais fé em Deus”, diz, entre um sorriso tímido e a alegria de ver a mesa cheia.

Assista o vídeo do Caruru de Seu Elias em Tairu, se possível, inscreva-se no canal

O que faz do Caruru de Seu Elias tão esperado não é apenas o dendê bem dosado ou o tempero certeiro, é o gesto, é a hospitalidade. Na mesa, além do tradicional prato, encontramos doces, bolos, milho, cana, pipoca, acarajé, abará e mugunzá. E, assim, tudo é preparado e servido como quem oferece não só alimento, mas também afeto.

Simone Guimarães, no Caruru de Seu Elias em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

Já fazia tempo que eu não comia um caruru tão saboroso e diversificado. Mesmo com o vento forte, estava na temperatura ideal”, contou Simone Guimarães, que participou do caruru pela primeira vez.

Sheila Vieira, no Caruru de Seu Elias em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

Para Sheila Vieira, que já acompanha a tradição, a expectativa nunca decepciona. “O Caruru de Seu Elias é uma delícia, sempre bem saboroso e muito tradicional aqui em Tairu”. Relata.

Tradição que supera os compromissos do dia a dia

Rosineide Santos, no Caruru de Seu Elias em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

Rosineide Santos, proprietária do salão Belle Femme, deixou o atendimento de lado por algumas horas para dar um pulinho na praia e experimentar o caruru de Seu Elias. Pela primeira vez participando da tradicional festa, ela saiu satisfeita com a experiência. “As pessoas vão falar que eu deixei o salão para estar aqui, mas valeu a pena, não vou dá nota 10, para Seu Elias porque ele vai ficar empolgado, vou dá 9,5, foi a primeira vez que vi o anfitrião comer com as mãos e no tacho ”, disse Rosineide, entre risadas, antes de retornar ao trabalho. A visita rápida ao caruru demonstrou que, para ela, a tradição e o sabor do prato superaram qualquer compromisso do dia a dia.

Caruru de Seu Elias em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

Ao lado da cozinha, amigos, funcionários e colaboradores trabalharam juntos, como sempre acontece. Além disso, mais do que uma simples refeição coletiva, o caruru se tornou um ato de união, ou seja, um verdadeiro ritual de comunidade. Nesse momento, fé, sabor e encontro se misturam em harmonia, assim reafirmando a identidade de um povo que encontra na tradição a sua força.

Caruru de Seu Elias em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

E assim, entre rezas, gargalhadas e colheres mergulhadas no dendê, Tairu se lembrou mais uma vez de que certas tradições são maiores que a comida. São a prova de que a cultura e a religião se multiplicam quando são vividas e compartilhadas.

Uma resposta

  1. Ja comigo vários Caruru. Mas na beira da Praia e Quentinho esse foi o Primeiro.
    Na próxima estarei la se Deus quiser. Amém . Me Aguade seu Elias .

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