A competição reuniu alunos, despertou talentos e abriu caminho para novas práticas educativas.
Por Gilsimara Cardoso
João Vitor, Levi Borges e Gustavo Oliveira – Foto: Marcelo Costa
Na manhã nublada e chuvosa do último sábado, 16, um grupo pequeno, mas determinado, se reuniu em Tairu. Apenas cinco estudantes, de fardas limpas e cubos nas mãos, sem mochilas, sem distrações, aguardavam ansiosos a chegada do ônibus que os levaria até Mar Grande. Ali, começava não apenas o deslocamento, mas uma pequena grande aventura que já ficaria marcada na memória da educação de Vera Cruz, o Primeiro Campeonato de Cubo Mágico do município.
Rosimeire Oliveira, diretora do Colégio Municipal de Vera Cruz – Foto: Gilsimara Cardoso
A diretora do Colégio Municipal de Vera Cruz, Rosimeire Oliveira, mesmo depois de uma semana puxada de aulas, estava ali cedo. O olhar cansado contrastava com a esperança que carregava. Orgulhosa, acompanhava aqueles cinco alunos que, embora representassem uma minoria diante do número total da escola, traziam consigo a inspiração de um futuro de oportunidades.
Thaiz Iasmim, na competição – Foto: Gilsimara Cardoso
Entre eles estava Thaiz Iasmim, aluna do oitavo ano e a única menina da comunidade de Tairu que iria participar do campeonato. Com timidez, contou que havia aprendido a montar o cubo com a ajuda de uma colega, e depois aprimorado a técnica assistindo vídeos no YouTube. “Eu tô achando muito legal, porque é um entretenimento. Treinei bastante, demorei um pouco para aprender, mas agora meu recorde é de um minuto”, relatou, ainda tensa, a caminho do campeonato.
Luíza Samantha, no 1º Campeonato de Cubo Mágico de Vera Cruz – Foto: Gilsimara Cardoso
Naquele dia, porém, Thaiz não chegou a competir. Quem subiu no palco para representar as meninas foi justamente a colega que havia lhe ensinado o cubo mágico, Luíza Samantha, 15 anos, moradora de Bom Despacho e aluna do Colégio Municipal de Vera Cruz. Luíza já aguardava em Mar Grande para o início da competição. Determinada, encarou o desafio e, entre tantos meninos, se destacou. Embora tenha ficado em quarto lugar na classificação geral, montou o cubo em apenas 0.49,3 segundos posição que não garantiu premiação, já que apenas os três primeiros foram contemplados, Luíza fez história, foi a única menina a marcar o menor tempo da disputa e conquistou respeito e aplausos.
João Vitor, aluno do Colégio Municipal Daulia Angélica, na competição – Foto: Gilsimara Cardoso
Os meninos também deram um show. O jovem João Vitor, 14 anos, aluno do Colégio Municipal Daulia Angélica, superou a pressão da estreia e cravou o tempo de 0,44.31 segundos, garantindo o terceiro lugar. “Estou muito feliz, vou treinar para ficar melhor para o próximo campeonato.” Ele ganhou um troféu e uma mochila.
Gustavo Oliveira, aluno do Colégio Municipal Daulia Angélica, na competição – Foto: Gilsimara Cardoso
Já o colega Gustavo Oliveira, também de 14 anos e da mesma escola, brilhou com um tempo de 0,40 segundos, conquistando o segundo lugar. “Vou treinar mais, para buscar o primeiro lugar. Venho com tudo em setembro. ” levou para casa um troféu e uma bicicleta.
Levi Borges, aluno do Colégio Municipal João José de Macedo, campeão do campeonato – Foto: Gilsimara Cardoso
Mas a emoção maior veio de Levi Borges, 13 anos, aluno do Colégio Municipal João José de Macedo e morador da comunidade do Baiacu. Com apenas dois meses de treino, Levi confessou que ficou nervoso na hora, marcando 0,31 segundos, acima do seu recorde pessoal de 0,17 segundos. Ainda assim, levou para casa uma bicicleta novinha e, mais do que isso, a inspiração de que é possível alcançar grandes conquistas com dedicação. “Eu treinei durante dois meses assistindo vídeos no Youtube, estou muito feliz! ”, disse com humildade.
Arthur Cardoso, aluno do sexto ano, do Colégio Municipal de Vera Cruz – Foto: Gilsimara Cardoso
Outro destaque foi Arthur Cardoso, 12 anos, aluno do sexto ano, do Colégio Municipal de Vera Cruz, em Tairu. Há menos de um mês, ele sequer sabia montar o cubo, até que recebeu a visita da família Casa en Bici, ciclistas que viajam o mundo de bicicleta e, durante a passagem por Vera Cruz, Andrés Noroña, ensinou algumas técnicas para Arthur. Inspirado pelo exemplo, Arthur conseguiu chegar entre os finalistas, marcando 1 minuto e 24 segundos. “Só tem que pensar em todas as peças, aprender os algoritmos e treinar as mãos também, para ter agilidade e pensar o que vai fazer em seguida. É só isso ! ” Explica Arthur. Um feito que provou que a educação vai além da sala de aula, ela acontece nos encontros e nas trocas de experiências.
David Samuel, aluno do sétimo ano, do Colégio Municipal de Vera Cruz – Foto: Gilsimara Cardoso
Também se destacou o jovem David Samuel, da mesma escola de Tairu, que aprendeu sozinho assistindo a vídeos no YouTube. Na competição, marcou 1 minuto e 6 segundos, mostrando habilidade e disciplina. David Samuel é muito conhecido na comunidade como Têto, um menino muito educado e proativo. Durante a competição ele deu entrevistas e ressaltou que não estava nervoso, “ eu estou tranquilo, não estou nervoso, só tenho que montar mais rápido. “
Fabiano Batista, professor de história acompanhando os alunos no campeonato – Foto: Gilsimara Cardoso
Ao todo, vinte alunos do Colégio Municipal de Vera Cruz estavam inscritos, mas apenas cinco embarcaram de Tairu naquele ônibus escolar. Poucos em número, grandes em significado. O professor de história Fabiano Batista, que acompanhava os jovens, resumiu bem a importância da iniciativa. “Estou gostando muito, porque é uma atividade lúdica que desenvolve o raciocínio lógico. É perfeito para nossas crianças”.
Equipe do Colégio Municipal de Vera Cruz com o secretário de educação – Foto: Gilsimara Cardoso
A própria diretora Rosimeire reforçou, “esse campeonato serve para tirar as crianças do celular. É um brinquedo que desenvolve raciocínio lógico, concentração e habilidade. É perfeito. Estou na torcida por eles”. Concluiu.
Silvano Sulzart, secretário de educação de Vera Cruz – Foto: Gilsimara Cardoso
A organização ficou por conta da Secretaria de Educação de Vera Cruz, comandada por Silvano Sulzart, a ideia surgiu após o secretário participar de um campeonato em Salvador, “o ano passado eu fui para um encontro de robótica em Salvador, e lá tinham vários outros encontros, em um deles, tinha o campeonato de cubo mágico, eu me aproximei do local e vi várias crianças e adolescentes, achei incrível... No início deste ano criamos um projeto para realizar o campeonato em Vera Cruz.” O sucesso desse primeiro campeonato garantiu a continuidade, “o próximo campeonato será em setembro ou outubro. Preciso alinhar com a equipe, pois temos sábados letivos“, explicou o secretário, ele também confirmou que em breve a cidade terá um campeonato de xadrez.
Assim, a manhã nublada e chuvosa de Vera Cruz se transformou em um dia de cores vivas e movimentos rápidos, onde cubos mágicos giraram entre mãos pequenas, revelando não apenas resultados cronometrados, mas sonhos em formação. Um jogo que não se limita a números: é sobre educação, disciplina, amizade e futuro.