Os desafios da Caatinga na Bahia… Casa en Bici.
Por Nazareth Reales

Caatinga brasileira, Bahia – Foto: Andrés
Nesta semana, cruzamos um dos territórios mais desafiadores de todo o Brasil: a Caatinga. Um bioma único no mundo, quente, seco, espinhoso… onde o sol não perdoa e cada quilômetro parece eterno.
Partimos de Amargosa em direção a Iaçu e, a cada pedalada, a paisagem foi se transformando. O verde começou a desaparecer. As curvas e subidas nos tiravam o fôlego, e em Tartaruga fizemos uma parada técnica para nos hidratar, reabastecer a água e respirar fundo antes de encarar uma reta infinita sob um sol impiedoso.

Caatinga brasileira, Bahia – Foto: Nazareth Reales
A partir dali, começamos a enfrentar a Caatinga com todo o seu rigor, calor escaldante, solo seco, nenhuma sombra, cactos por todos os lados e plantas espinhosas que deixavam a luz passar. O corpo sentia. A mente também.
Pedalar assim, sem acostamento, sob aquele sol, com Thomas e Polar, virou um ato de resistência. Cada sombra era um tesouro inexistente. Cada caminhão que passava sem diminuir a velocidade, um suspiro contido. O calor era insuportável. O cansaço se acumulava.

Ciclista Denny Barbosa Foto: Nazareth Reales
De repente, um gesto, um ciclista que vinha no sentido oposto nos cumprimentou. Minutos depois, ele nos alcançou. Era Denny Barbosa, pai de um menino de seis anos, encantado ao ver Thomas pedalando sozinho com apenas quatro anos. Juntou-se a nós por um trecho. Essa pequena conexão humana, no meio do nada, nos deu fôlego.

Valdemir admirador do ciclismo – Foto: Nazareth Reales
E então, outra surpresa: Valdemir, entusiasta do ciclismo, parou seu carro ao nos ver. Ofereceu o que tinha: creme dental para Thomas, repelente, vitaminas. “Se de carro já é difícil, imagina de bicicleta”, disse ele, admirado. Seu gesto foi um presente que reconfortou mais que mil palavras.

José Carlos, Pousada e Restaurante Moderno – Foto: Acervo Pessoal
Finalmente, depois de horas pedalando, chegamos a Milagres. Lá, Gil, indicado pela Dra. Viviane Santana, nos recebeu e nos levou à Pousada e Restaurante Moderno. Carlos Brandon, o dono, nos surpreendeu com hospedagem e alimentação gratuitas por dois dias. “Vocês precisam estar fortes para chegar à Chapada”, nos disse.

Daniela Morais – Foto: Nazareth Reales
E assim foi. Milagres nos renovou. A loja Mundo Pet da Mallu providenciou ração para Polar. Daniela Morais e o grupo Milabike nos presentearam com alimentos, energia, apoio. Saímos de Milagres com o coração cheio, e as alforjes também.
Mas a estrada não dá trégua.

Barraca Asa Delta – Foto: Nazareth Reales
A rodovia ficou deserta. Pedras gigantes nos cercavam. O sol, mais cruel do que nunca. Até que, como um milagre no meio do sertão, apareceu uma placa: “Coco gelado, melancia, internet”. Achamos que era brincadeira… mas não era. Um morador com um pequeno comércio nos recebeu com água de coco gelada e melancia. Era real. Era vida. Era energia para continuar.
Mas ainda faltava o mais difícil.

Foto: Nazareth Reales
Seguíamos pedalando. Cada quilômetro pesava. Almoçamos ao lado de um ponto de ônibus, sob uma sombra mínima. Thomas, cansado, pediu para subir na bicicleta com o pai. Encachamos a bicicleta dele na minha. Agora éramos apenas Andrés e eu pedalando… com mais peso, mais sol, menos energia.
Até que… simplesmente não consegui mais.
O corpo disse basta. A alma também.
Parei. Tirei o capacete, as luvas, os óculos. Me deitei sobre o chão quente. Me rendi.
Uma hora se passou. O tempo parou.
E então… uma voz.
Pequena. Doce e firme.
Mamãe… vamos continuar. Falta pouco. Vamos, você consegue.
Era Thomas, me dando a mão, com os olhos cheios de certeza.
Aquele momento me quebrou… e me reconstruiu. Coloquei o capacete, abracei ele com força e me levantei.
Faltavam 5 km.
Foram os 5 km mais difíceis da minha vida.
Com lágrimas, com dor… e com todo o coração.
Seguimos.
Porque nossa viagem não é apenas uma viagem.
É um propósito de vida.
É um sonho compartilhado.
É um exemplo para nosso filho. Para nós. Para quem quiser sonhar.
Viajar de bicicleta em família não é fácil. Há dias em que o corpo não responde.
Mas é justamente aí que nasce a verdadeira força: o propósito

Jaldeck Almeida – Foto: Nazareth Reales
Aquele que sussurra, “só mais um pouco… só mais um pouco.”
Assim chegamos a Iaçu.
Lá nos esperavam Jaldeck Almeida do Iaçubike e João Neto da prefeitura. Nos acolheram com generosidade, abriram as portas, o coração… e nos fizeram sentir em casa. Nos abraçaram com humanidade. Nos lembraram que todo esforço vale a pena.

Praça dos Vaqueiros- Milagres, Bahia
Nesta semana, entendemos, mais uma vez que os sonhos não são dados, são construídos.
E não se caminha sozinho, caminha-se em companhia, com amor, com apoio.
Cada pedalada tem um sentido.
Cada gesto nos sustenta.
Cada lágrima vale a pena quando é por aquilo que mais amamos.
Obrigada por nos acompanhar.
Obrigada por fazer parte.
Essa viagem também é sua.
Emocionada, vc escreve de forma que eu estou pedalando e sentindo tudo que vc descreve !! Obrigada por permitir que viajem com tigo !! Gratidão!!
Sigam em frente!! Estamos na torcida!
Uma história de vida maravilhosa pode ter o privilégio de conhecer essa família . Tudo isso tem o propósito sou fã de vocês . Quem e apaixonado por baike entende essa aventura .
Tem uma frase que diz, quanto menor a cozinha, mais sincero o bom dia! E é muito real, as cidades pequenas acolhem, as pessoas abraçam e compartilham o que podem! Que vcs vivam seus propósitos e que Deus os abençoe sempre!! Amargosa sempre estará de braços abertos!
Tem uma frase que diz, quanto menor a cozinha, mais sincero o bom dia! E é muito real, as cidades pequenas acolhem, as pessoas abraçam e compartilham o que podem! Que vcs vivam seus propósitos e que Deus os abençoe sempre!! Amargosa sempre estará de braços abertos!