Algo que não fura nem se desgasta: a bondade humana

Entre Varzedo e Amargosa, a família e a empatia têm caminho próprio

Por Nazareth Reales

Eu amo Varzedo – Foto: Nazareth

Após milhares de quilômetros percorridos, sabemos que cada trecho da viagem traz seus próprios desafios. Mas entre Varzedo e Amargosa, na Bahia, não enfrentamos apenas subidas íngremes, pneus furados e o cansaço do corpo.

Descobrimos, mais uma vez, que o coração das pessoas é o motor mais poderoso.

Carminha ciclista e anfitriã de varzedo Reales

Tudo começou com uma despedida difícil em Varzedo, mas ao mesmo tempo linda, carregada de gratidão. Lá fomos recebidos com muito carinho por Carminha, uma anfitriã e ciclista que nos acolheu em sua casa como se fôssemos da família. Sua generosidade nos lembrou que o lar nem sempre é um lugar físico, mas o calor humano de quem te recebe sem esperar nada em troca. Aquela pessoa que oferece sua casa e te faz sentir como se ainda estivéssemos na Colômbia. Valdeci nos ofereceu sua força e apoio, e Lúcia, com sua ternura, conquistou o carinho de Thomas.

A caminho de Amargosa – Foto: Nazareth Reales

De volta à estrada, começamos uma etapa exigente. Subidas constantes sob o sol e com mais de 100 quilos da nossa casa sobre rodas. No meio do caminho, Thomas não quis mais pedalar, trocando seu meio de transporte e subindo na bicicleta do papai, assim continuou a viagem. A 7km de Amargosa, o inevitável aconteceu: nosso pneu traseiro furou. Quando nos preparávamos para empurrar, apareceu Jeferson. Sem hesitar, ele se tornou nosso anjinho da estrada, oferecendo uma carona até a cidade mais próxima.

O pão Caseiro Foto: Nazareth Reales

Jeferson disse: “Ao ver vocês viajando em família, me identifiquei. Por isso me sinto comprometido a ajudar no que puder”. Ele nos levou ao Mercado O Pão Caseiro, onde nos patrocinou com diversos produtos, um delicioso café da manhã no dia seguinte e um almoço espetacular na melhor churrascaria da região, Churrascaria do Bó.

Equipo “Bem Vindos a Amargosa” – Foto: Nazareth Reales

Já em Amargosa, surgiu novamente a pergunta de todo dia: “Onde vamos dormir hoje? ” A resposta veio graças a Pedro Bretes e Catarina, que nos colocaram em contato com Paulo Santos, veterinário e professor da cidade, que nos ofereceu sua casa para descansarmos. Pedro também nos convidou para um jantar delicioso, preparado por ele e Thomas, transformando Thomas em chef por uma noite. Tudo isso foi possível graças à indicação de Lucia, aquela amiga que conhecemos em Itaparica e que, sem saber, nos abriu mais uma porta.

Dr. Iago Ícaro e Dra. Fernanda Facon – Foto: Nazareth Reales

A resposta foi imediata, por meio de Ville Borges, conhecemos o dr. Iago Ícaro e Dra. Fernanda Facon, que gentilmente nos ofereceram um atendimento odontológico preventivo para toda a família no Hospital Coração do Vale. Dessa forma, conseguimos manter nossa saúde mesmo em uma viagem tão longa e exigente.

De verde Vivian Santana – Foto Andres Noreña

Como uma bola de neve, esse gesto de empatia e generosidade foi crescendo entre as pessoas. Assim conhecemos a doutora Viviane Santana, que inicialmente nos encontrou pelas redes sociais (Instagram), e por lá compartilhou nossa história com a comunidade. Ela veio nos conhecer pessoalmente e dar um abraço no valente Thomas, como ela o chamou. Além disso, ofereceu a ele um check-up infantil no laboratório clínico Labocliv, para confirmar que sua saúde está em dia.

Veterinária Clara Cordero – Foto: Nazareth Reales

Polar, nosso companheiro de quatro patas, também foi beneficiado e apoiado pela comunidade: recebeu duas vacinas do veterinário Paulo Santos e da veterinária Clara Cordero, no consultório veterinário CEMEVA, que também ofereceu sua ajuda de forma desinteressada.

Como família, estamos comprometidos em cuidar do nosso bem-estar físico, emocional e espiritual, para que essa jornada não seja apenas longa, mas também saudável e sustentável.

Escola Criação – Foto: Acervo Pessoal

Outro momento inesquecível foi o encontro com as crianças da Escola Criação. Compartilhamos com elas nossa história de viagem, mostramos um pouco da Colômbia por meio das tradições, cultura e geografia, falamos sobre a importância de realizar sonhos, praticar esportes e manter hábitos saudáveis. Levamos uma amostra do poder feminino através do domínio da bola (freestyle de futebol), rimos juntos e plantamos, naqueles pequenos corações, a possibilidade de acreditar em um mundo diferente, um mundo onde os sonhos, a educação alternativa e a empatia caminham de mãos dadas.

Casa São Luiz – Foto Acervo Pessoal

Não podemos deixar de citar outras pessoas que se uniram a essa rede de apoio com empatia e generosidade, como:
• Roberta Morais, da loja Bambinos Moda Infantil, com roupas para Thomas;
• Taise Oliveira, experiência de risadas, brincadeiras e diversão no shopping;
• Conça, da loja de calçados Passo Fort;
• Sérgio Almeida, da loja Casa São Luiz, com peças de reposição para bicicleta;
• Nelson, da loja Soubike, com mais peças;
• Nelcy Alves, da loja Gabi, com souvenirs;
• David Cintra, da fábrica Café Paraíso;
• Padaria Padroeira, com lanche para a estrada;
• Rita Miranda, com hospedagem;
• Restaurante Aurora;
• Amanda Moreira, do Gosto Caseiro;
• Juvenal, do Restaurante da Nil.

Coordenadora Lilia Escola Criação – Foto: Nazareth

Mas além dos nomes e gestos concretos, queremos destacar algo essencial: a empatia, a solidariedade e o valor que ainda se dá à família. Nesses anos viajando de bicicleta, poucas vezes sentimos um apoio tão sincero e completo quanto o que recebemos nesse trecho. Em meio a tantas dificuldades que o mundo enfrenta, é profundamente esperançoso saber que ainda existem pessoas dispostas a ajudar simplesmente porque acreditam no que fazemos, porque valorizam uma família que ousa sonhar junta e em movimento.

Vanessa Variedades – Foto Acervo Pessoal

E é justamente isso que queremos ressaltar nesta crônica: a empatia, a solidariedade, o valor da família, da saúde e da educação. Em todos esses anos de estrada, poucas vezes recebemos um apoio tão amoroso e completo quanto o dessas comunidades. A maneira como valorizam o esforço de uma família que vive de forma alternativa (mãe, pai, filho e seu cachorro) e como escolhem nos apoiar nos comove profundamente.

Andres e as meninas do Restaurante Gosto Caseiro – Foto Acervo Pessoal

Obrigado a cada pessoa que nos acompanhou nesse trecho do caminho. Obrigado por mostrar que ainda há espaço para a bondade, a generosidade e o amor pelas coisas simples. Esta rota não foi apenas uma conexão entre duas cidades; foi uma conexão entre corações.

Este caminho nos lembra que, mais além do asfalto, do suor e do cansaço, existe algo que não fura nem se desgasta: a bondade humana.