Entre os resíduos recolhidos estavam uma lata de mingau instantâneo chinês.

Por Gilsimara Cardoso

Foto: Marcos Cruz

Neste último domingo, 08, durante um mutirão de limpeza nas nas praias de Barra do Pote e Conceição, voluntários encontraram itens inusitados trazidos pelas correntes marítimas, embalagens com inscrições em chinês, sugerindo origem asiática.

O mutirão foi promovido pelo Village Itaparica em parcerias com o Samba de Roda Dois de Julho, com o Grupo de Capoeira Mestre Luiz Preto e com o movimento Maré sem Plástico, foram recolhidos cerca de 400 kg de resíduos sólidos nas praias de Barra do Pote e Conceição até a orla do Village Itaparica, em Vera Cruz.

Foto: Afonso Santana

A descoberta chamou a atenção dos participantes do mutirão e evidencia um problema crescente no litoral brasileiro, a chegada de lixo internacional às praias nordestinas, impulsionado pelas correntes oceânicas globais e também pela falta de conscientização do ser humano.

Adriana Muniz segurando a lata de mingau chinês – Foto: Marcos Cruz

De acordo com Adriana Muniz, gerente da ASG do Village Itaparica, é comum encontrar não só em mutirões, mas também andando pela praia de Conceição e Acapulco, ” é comum, acredito que esses resíduos venham parar aqui por um motivo, por falta de conscientização da tripulação dos navios que ancoram na Baia de Todos os Santos e jogam esses resíduos no mar, eu já encontrei garrafas de vidro, também. ” Explica Adriana.

A presença de resíduos estrangeiros, como os encontrados em Barra do Pote, demonstra que a poluição marinha não reconhece fronteiras. Embalagens produzidas a milhares de quilômetros de distância podem atravessar oceanos e chegar ao litoral brasileiro.

Marcos Cruz no mutirão – Foto: Afonso Santana

Para Marcos Cruz responsável pelos programas de comunicação social e consumo consciente do Village Itaparica falta ações assíduas dos órgãos competentes, “falta de fiscalização efetiva de órgãos como a Capitania do Portos da Bahia-CPBA, da Secretária de Meio Ambiente do Estado, e das prefeituras que recebem estes resíduos nas praias e também podem monitorar em terra, e denunciar, mas acredito que essa responsabilidade deve ser compartilhada não é apenas de uma única esfera, inclusive a comunidade e a sociedade civil deve se mobilizar para evitar esse tipo de crime ambiental. Alerta Marcos.

Moradores de Vera Cruz – Foto: Afonso Santana

O que parecia ser apenas mais um mutirão de limpeza tornou-se um alerta para um problema muito maior. A lata de mingau chinês e a embalagem de suco encontradas em Vera Cruz representam um alerta urgente: o mar está nos devolvendo o que o mundo todo descarta irresponsavelmente.

Foto: Afonso Santana

Esse fenômeno é resultado da chamada “globalização do lixo marinho” e tem impactos profundos.
Animais marinhos ingerem plásticos ou ficam presos neles, afetando a biodiversidade costeira. Prejudica também o turismo, o que impacta diretamente a economia local, a queda na visitação e prejuízos econômicos para comunidades locais.

Foto: Afonso Santana

A hipótese mais provável para o professor Alexander Turra, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP),em entrevista a BBC, é o descarte irregular de resíduos por embarcações internacionais. “Esses navios transportam pessoas, e essas pessoas consomem produtos que muitas vezes são jogados no mar”, afirma Turra, que é um dos maiores especialistas do país em poluição marinha. “E aí vem tudo o que estava na embarcação e que foi comprado no porto de origem, que pode ser em Singapura, Vietnã, China… onde for.” Explica Turra.

Apesar de representar apenas 9,2% do transporte de mercadorias importadas no Brasil, segundo a pesquisa Custos Logísticos da Fundação Dom Cabral, o modal aquaviário já causa impactos ambientais relevantes. Enquanto a maior parte das cargas importadas chega ao país por rodovias cerca de 75% do total, é no transporte marítimo que se observa uma crescente preocupação com o descarte irregular de resíduos.

Foto: Afonso Santana

A fiscalização do mar na Baía de Todos os Santos é feita principalmente pela Marinha do Brasil, por meio da Capitania dos Portos da Bahia (CPBA) que tem a responsabilidade de garantir a segurança da navegação, a prevenção da poluição, a proteção dos recursos marinhos e a fiscalização das atividades nas águas da baía. Além da Marinha, a fiscalização pode envolver órgãos estaduais e municipais, como a Secretaria do Meio Ambiente do Estado da Bahia (Sema), as prefeituras de Salvador, de Vera Cruz e de Itaparica.

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