Entre gaivotas, pititingas e histórias ancestrais, as marisqueiras moldam o cotidiano da praia.
Por Gilsimara Cardoso

Foto: Gilsimara Cardoso
Nesta quinta-feira (4), Tairu acordou com a força da lua cheia iluminando o mar. Turistas que passaram cedo pela praia encontraram um cenário deslumbrante. Gaivotas riscando o céu, a maré subindo com toda energia e as primeiras redes chegando à areia. A abundância se impôs no ritmo da manhã e anunciou que o dia traria mais do que peixe traria história.

Mulheres da pesca de calão -Foto: Gilsimara Cardoso
Logo depois do amanhecer, as marisqueiras já desenhavam seus movimentos na areia. Crislane Barbosa puxou a rede com firmeza, participou da partilha, e ali mesmo, na areia começou a tratar os peixes. Ela repete o gesto que aprendeu na infância, conhecimento que carrega força, precisão e pertencimento.
Além disso, Crislane leva consigo a experiência da Marcha Global das Mulheres Negras, em Brasília. Caminhou entre milhares, levou a voz da comunidade e voltou para Tairu com o espírito renovado. Hoje, a luta dela aparece tanto no puxar da rede quanto no corte do peixe fresco.

Mulheres da pesca de calão -Foto: Gilsimara Cardoso
Ao lado dela seguem Marilucia Barbosa e Luciana Barreto. Elas caminham entre os baldes e mosquiteiros, limpam o peixe na areia quente e conversam entre uma maré e outra. A presença delas costura tradição, resistência e delicadeza no mesmo cenário.
A pesca como herança

Mulheres da pesca de calão -Foto: Gilsimara Cardoso
Enquanto isso, a pititinga reapareceu tímida, somente agora em dezembro, ainda que em pouca quantidade. O retorno desse peixe miúdo trouxe à memória dos moradores os meses de fartura vividos no ano passado, em setembro.
Por isso, aqui, o mar sempre decide, e elas sempre escutam. Em Tairu, o mar dita o ritmo, a lua guia os corpos e a pesca mantém a vida em movimento.

Gabriele Elen Lima, mulheres da pesca de calão -Foto: Gilsimara Cardoso
Entre as vozes que ecoam na praia, surge a jovem Gabriele Elen Lima, 19 anos. Com uma beleza ímpar e um brilho que lembra a próprio amanhecer, ela pesca com a mãe desde a infância. Gabriele representa a geração futura, aquela que observa, aprende, honra e dá continuidade à história da comunidade. Ela fala com certeza sobre o amor que sente por Tairu. “Gosto muito de pescar, pesco desde criança. Eu amo morar aqui. Não pretendo sair deste lugar.”
A comunidade que se encontra na maré

Mulheres da pesca de calão -Foto: Gilsimara Cardoso
A puxada de rede reúne moradores, visitantes e curiosos. A partilha, então, amplia esse encontro. As marisqueiras tratam o peixe ali mesmo, na areia molhada, enquanto as gaivotas aguardam os restos do trabalho. Nada se perde, tudo se transforma.

Mulheres da pesca de calão -Foto: Gilsimara Cardoso
Assim, sob a lua cheia, entre o cheiro de peixe fresco e a força dessas mulheres, Tairu segue escrevendo a própria história.

Mulheres da pesca de calão -Foto: Gilsimara Cardoso
É um lugar onde o mar dita o ritmo, as mulheres sustentam o dia e a luta, seja na praia ou em Brasília, permanece viva em cada jogada de rede. E a pesca continua, firme como a maré que sempre volta.