Apesar da nota da Embasa, leis garantem regras rígidas para interrupção de água em comunidades.

Por Gilsimara Cardoso

Foto: Acervo Pessoal

Nesta terça-feira, 03, Vera Cruz enfrenta uma das maiores crises hídricas de 2025. Pelo terceiro dia consecutivo, moradores de diversas localidades. Tairu, Jiribatuba, Campo Formoso, Aratuba e Mar Grande, denunciam a total ausência de água nas torneiras. Situação que tem transformado a rotina de milhares de famílias em Vera Cruz.

Foto; Divulgação / Embasa

O problema ganhou proporção no dia 29 de novembro, quando a Embasa divulgou a primeira nota oficial informando que suspenderia temporariamente o abastecimento de água em alguns pontos do município.

Mesmo assim, a empresa não incluiu Tairu entre as áreas que sofreriam interrupção. Para as localidades mencionadas, a Embasa prometeu normalizar o fornecimento no dia 2 de dezembro, o que não ocorreu.

A falta de informações claras e acessíveis expôs uma falha grave na comunicação da Embasa. Moradores relatam que não receberam aviso prévio suficiente para armazenar água e destacam que medidas simples, como o uso de carro de som nas comunidades, teriam reduzido parte dos transtornos.

Nos grupos de WhatsApp, os debates se intensificaram, e moradores passaram a relatar a gravidade da situação, a sensação de abandono e o impacto direto na rotina das famílias.

Em Tairu, onde o abastecimento foi cortado sem qualquer anúncio, a revolta aumentou. “Se a gente soubesse, tinha guardado água. Isso é uma falta de respeito com todos nós”. Afirmou uma moradora da comunidade, no grupo Repórter Cidadão.

Os relatos que denunciam a importância do abastecimento de água

Com o calor intenso, a falta de saneamento básico e a ausência de qualquer contrapartida emergencial, como o envio de carros-pipa, o cenário se tornou insustentável. Famílias com crianças pequenas, idosos e pessoas com necessidades especiais ficaram sem alternativa para atividades básicas como cozinhar, lavar, higienizar e cuidar da própria saúde.

Já são três dias sem água na torneira. Tem mães com bebês de colo passando um sufoco terrível sem água. A Embasa disse que iria retornar ontem e até agora nada”. Relatou Ana Émile, moradora da Beira Rio, em Tairu.

Foto: Rede Social

A pressão da população cresceu. No início da tarde desta quarta-feira (03), moradores fecharam um trecho da BA-001, próximo a Tairu, em protesto contra a falta de água e a falta de respostas concretas por parte da empresa. Houve congestionamento, pouco tempo depois, a polícia militar liberou a via.

No Cine, moradores também relatam dificuldades. Uma moradora, que preferiu não se identificar, contou que a situação nunca se resolveu de fato. “Aqui sempre foi assim. Um vereador chamado Jeová chegou a dizer na Câmara que tinha resolvido o problema. Ficamos um mês maravilhados: a água, que raramente chegava aos pontos mais altos da minha casa, subiu até o primeiro andar. Fiquei surpresa. Mas depois tudo voltou ao normal e a falta de água recomeçou. Quando tem festas aqui na Ilha, o problema se agrava. Afirma.

A solução não chega

Foto; Divulgação / Embasa

Diante da tensão, o Jornal Atualize procurou o vereador João do PT para entender como o poder legislativo tem acompanhado o caso. Ele afirmou que vem cobrando respostas da gerência da Embasa, mas ainda não recebeu um posicionamento formal sobre a conclusão do serviço. “Eu tenho cobrado da gerência, mas eu não tenho a resposta formal sobre a conclusão, não. Ela está trabalhando nisso aí, está operando para resolver.” Afirmou. Apesar disso, o vereador admitiu que ainda não visitou a sede da Embasa em Vera Cruz afetadas para fiscalizar a situação de perto.

O Jornal Atualize também falou com a gerente da Embasa, Leila Paula, que esclareceu, “o retorno será gradativo, 60% da obra está finalizada, mas ainda há pendências. A previsão é de regularização em até 48h, a contar de ontem (dia 02/12) às 15h”. Afirma Leila.

O que diz a legislação?

A legislação brasileira classifica o abastecimento de água como um serviço essencial, que deve funcionar de forma contínua, conforme estabelece o Código de Defesa do Consumidor (CDC). Por isso, interrupções sem aviso prévio e sem divulgação adequada podem resultar em sanções, multas e até responsabilização por danos morais ou materiais.

Além disso, o Artigo 22 do CDC reforça essa obrigação ao determinar que serviços públicos essenciais precisam ser prestados de maneira adequada, eficiente, segura e contínua. Dessa forma, quando esses critérios não são cumpridos, a situação caracteriza falha na prestação do serviço e abre espaço para medidas legais por parte dos consumidores.

Ouvidoria e denúncias

Foto: Whatsaap Embasa

Os moradores podem solicitar esclarecimentos e registrar reclamações diretamente no Serviço de Atendimento da Embasa pelo número (71) 99717-0999, que atende a região de Vera Cruz. Protocolar a demanda é essencial, pois gera registro oficial, garante rastreabilidade do atendimento e fortalece eventuais ações junto aos órgãos de defesa do consumidor.

O consumidor também pode acionar o Procon – Posto SAC Vera Cruz, localizado na Avenida Juvenal João Vinagre, nº 140, Mar Grande, Centro, CEP 44.470-000. O atendimento funciona de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 14h30, mediante agendamento prévio pelo BA.GOV ou por demanda espontânea.

Se o problema persistir, o consumidor também pode recorrer à Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). A denúncia deve ser registrada por meio do formulário de denúncia qualificada, enviado pelo protocolo eletrônico da agência. Esse procedimento cria um histórico formal do caso e reforça a necessidade de apuração por parte dos órgãos reguladores.

Em meio ao caos, os veículos de comunicação da Ilha de Itaparica se tornaram o principal canal de denúncia da população, que busca desesperadamente respostas. A crise expõe não apenas um problema estrutural, mas também a necessidade urgente de respeito, responsabilidade e transparência com quem depende diariamente desse serviço essencial.

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