A Ilha está presente. A voz dos nossos territórios ecoa na Cúpula dos Povos durante a COP30
Por Gilsimara Cardoso

Foto: Gilsimara Cardoso
Desde o dia 10 de novembro, o Grupo de Coalizão em Defesa do Território Sagrado marca presença na Cúpula dos Povos, realizada durante a COP30, em Belém do Pará. Representando a Ilha de Itaparica, seguem a líder religiosa e pesquisadora Eliana Falayó e a pescadora e marisqueira Rosângela Soares. Duas vozes que carregam consigo a força e a sabedoria das marés, dos terreiros e das comunidades que resistem.

Cúpula dos Povos – Foto: Gilsimara Cardoso
A Cúpula dos Povos surge como um espaço de encontro e partilha, onde quilombolas, povos indígenas, povos de santo, extrativistas e demais comunidades tradicionais se reúnem para construir pontes de diálogo e solidariedade. Nesse cenário plural, abrem-se caminhos para conversas sinceras sobre os desafios que ameaçam seus modos de vida.
Entre falas e escutas atentas, emergem relatos de perda de terras, de interrupção de práticas culturais, de impactos sobre as águas e de silenciamento de saberes, feridas abertas por projetos de desenvolvimento que, muitas vezes, avançam sem considerar quem, de fato, sustenta a vida no território.

Assim, a cada testemunho compartilhado, nasce também um gesto de resistência. Em meio às dores, floresce o acolhimento; diante das injustiças, fortalece-se a estratégia coletiva. A Cúpula, portanto, não é apenas um encontro, é um movimento vivo, onde o diálogo se transforma em força e a esperança em ação.
Diálogos entre comunidades tradicionais na Cúpula dos Povos, durante a COP30

Cúpula dos Povos na Cop30 – Foto: Acervo Pessoal
Enquanto isso, a COP30 reúne representantes de 198 países para discutir metas de redução de gases poluentes e ações de adaptação às mudanças climáticas.
Nesse cenário, a presença das comunidades tradicionais reforça a urgência de incluir seus conhecimentos e decisões coletivas nos processos que definem as políticas globais sobre o clima.

Eliana Falayó, na apresentação de conclusão do mestrado em Itaparica – Foto: Gilsimara Cardoso
Entre as representantes da Ilha de Itaparica, destaca-se Eliana Falayó, líder religiosa e pesquisadora que recentemente concluiu mestrado acompanhando comunidades tradicionais em Alcântara (MA) e na Ilha de Itaparica (BA).
O estudo analisa como grandes empreendimentos transformam vidas, afetos e relações com a terra. Evidenciando as consequências sociais e culturais de projetos, vendidos como desenvolvimento, sobre os modos de viver tradicionais.

Eliana Falayó e Rosãngela Soares – Foto: Gilsimara Cardoso
A atuação de Eliana integra ancestralidade, vivência territorial e produção acadêmica, ampliando o debate sobre o direito à consulta livre, prévia e informada, previsto na Convenção 169 da OIT.
Com olhar crítico e sensibilidade, Eliana Falayó afirma. “Não viemos até aqui para falar somente de Itaparica. Viemos para somar com outras lutas. Quando falamos dos nossos modos de viver, falamos do direito de existir e de sermos reconhecidos como sujeitos de história.”
Resistência na Cúpula dos Povos

Cúpula dos Povos na Cop30 – Foto: Acervo Pessoal
Já Rosângela Soares, marisqueira e também representante da Ilha, destaca a distância entre os discursos oficiais e a realidade das comunidades tradicionais. “É minha primeira vez no Pará. Estou decepcionada com a COP30, porque a verdadeira COP30 é essa aqui. Todas as falas aqui são iguais, só mudam o território.” Afirma Rosângela.

Rosângela Soares – Foto: Gilsimara Cardoso
Uma reafirmação sobre o distanciamento entre a COP30 e a Cúpula dos Povos. Enquanto a COP30 oficial segue negociando números e metas, a Cúpula fala de vidas, direitos e territórios.
Assim, entre análises e testemunhos, a participação dessas mulheres evidencia a contradição entre os centros de decisão internacional e as bases comunitárias que enfrentam, diariamente, os efeitos concretos da crise climática.
Dessa forma, na Cúpula, o debate assume outra dimensão, a da resistência, da escuta e da defesa do direito de existir nos próprios territórios. É nesse ambiente de partilha e mobilização que as experiências se entrelaçam, revelando a força das comunidades que sustentam a vida com seus modos de ser e de cuidar da terra.
Contudo, nesta terça-feira, 11 de novembro, a delegação seguiu para o espaço das Convenções. Onde ocorreram os diálogos oficiais entre movimentos sociais e representantes de diversos países. Reforçando a importância de aproximar as vozes dos territórios das decisões globais sobre o clima.
Essas duas nos representam e muito! Maravilhosas!!! 👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾
De fato Lud