Grupo de Coalizão reúne terreiros, sociedade civil, acadêmicos, Concessionária Ponte Salvador/ Itaparica e Governo para debater impactos e defender comunidades da Ilha de Itaparica.
Por Gilsimara Cardoso

Apresentação de Eliana Falayo – Foto: Oni Sampaio
Neste último sábado,18 , os povos de terreiro realizaram um encontro inédito com representantes do Governo do Estado, do Consórcio Ponte Salvador-Itaparica, sociedade civil e acadêmicos no Terreiro Tuntun Olukotun, em Itaparica.

Foto: Oni Sampaio
O evento marcou um momento histórico de protagonismo da comunidade local, que apresentou os anseios sociais, os territórios sagrados, a Convenção 169 da OIT e um diagnóstico sobre o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) do projeto Ponte Salvador-Itaparica.
Grupo de Coalizão

Foto: Gilsimara Cardoso
Uma das coordenadoras do Grupo de Coalizão, Eliana Falayo, destacou a importância da mobilização.
“A Coalizão nasceu da necessidade de reunir várias vozes da Ilha de Itaparica. A princípio surgiu a partir da Rede de Mulheres, mas logo percebemos que precisávamos incluir todo o segmento da localidade, com todas as suas expressões e tradições. É a partir dessas escutas que os gestores devem criar políticas públicas que atendam às demandas reais da população.” explica Eliana.

Terreiro Tuntun Olukotun – Foto: Gilsimara Cardoso
Durante a apresentação, Eliana reforçou a urgência da defesa do território. “Não estamos aqui apenas para falar contra a ponte ou a duplicação da BA-001. Estamos aqui para mostrar que a Ilha de Itaparica tem territórios sagrados, modos de vida tradicionais e uma cultura que precisa ser respeitada. O impacto dessas obras vai além do concreto; ele atinge nossa identidade, nossa memória e nossa espiritualidade.” Ressalta.

Foto: Oni Sampaio
Ela também destacou o papel das mulheres e lideranças de terreiro. “As mulheres da ilha são as primeiras a sentir os impactos. Elas mantêm o terreiro, cuidam das famílias e lideram comunidades. É preciso compreender que desenvolvimento não pode significar destruição de vidas e culturas.”

Foto: Gilsimara Cardoso
O diagnóstico do TAC apresentado pela Coalizão evidenciou falhas na divulgação, monitoramento e efetividade das ações previstas, mostrando que as medidas de mitigação ainda não contemplam integralmente os territórios sagrados nem os modos de vida das comunidades de matriz africana. Os participantes reforçaram que os encontros informativos, como este, não substituem consultas livres, que devem garantir a participação efetiva da população.
Assista aqui a fala de Tiago Henrique, coordenador executivo da Sepromi
Tiago Henrique, coordenador executivo da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (SEPROMI), reconheceu diante do público falhas na divulgação das consultas, embora, em mensagem ao Jornal Atualize, tenha esclarecido que a fala dele referia-se apenas à consulta livre de Amoreiras (Itaparica).
Entretanto, o jornal tem acompanhado e constatado que a divulgação teve problemas técnicos em grande maioria das consultas livres realizadas na Ilha, em 2025.
Diante de todas as abordagens, Eliana Falayo enfatiza que, ao expressarem de forma uníssona as demandas, as comunidades estão chamando a atenção do governo para carências e urgências concretas na Ilha de Itaparica. Segundo ela, essas manifestações refletem as necessidades reais dos povos tradicionais, que buscam garantir infraestrutura básica, políticas públicas adequadas e a preservação de direitos culturais, religiosos e ambientais.
Comunicação assertiva

Luis Rodrigues, no Terreiro Tuntun Olokutun – Foto: Oni Sampaio
Um dos momentos de destaque foi a participação do jornalista Luis Rodrigues, representante de comunicação da Concessionária, que, pela primeira vez, antes da exibição do vídeo institucional do Projeto Ponte Salvador–Itaparica, explicou que o material apresentado tinha caráter publicitário e de marketing do empreendimento.
“Então eu queria que vocês tirassem esse tom, né, e focassem especificamente nas informações que o vídeo traz. Informações sobre o método construtivo da Ponte, na lâmina, na água, e informações sobre os trechos daquilo que a gente chama de Sistema Rodoviário Ponte Salvador Itaparica. Então é uma obrigação nossa, enquanto profissionais de comunicação, minha e de Carlos, oferecer e produzir produtos para a concessionária que possam fazer com que o projeto tenha uma linguagem mais ampla. Uma dessas linguagens é uma abordagem mais de viés associado àquilo que a gente poderia chamar de marketing e publicidade.” Ressalta Luis.
Participação das comunidades

Foto: Gilsimara Cardoso
O encontro contou com a presença de 59 pessoas de terreiros e 40 representantes da sociedade civil, além de professores da UNEB e da UFBA. As falas reforçaram que o Grupo de Coalizão atua de forma coletiva para pontuar ao governo e à concessionária pautas essenciais sobre os impactos negativos da ponte Salvador-Itaparica e do Sistema Viário de duplicação e recuperação de um trecho da BA-001, na Ilha de Itaparica.

Foto: Gilsimara Cardoso
Eliana Falayo, destacou também a importância de garantir que as comunidades tenham pleno conhecimento do empreendimento antes de participarem das consultas públicas. “Provocamos o Estado para que cumpra com o papel dele no sentido de apresentar as informações atuais do projeto da ponte. Como os povos irão demandar nas consultas se não conhecem o projeto?”, afirmou Eliana.
Conflito e representação

Balbino Daniel de Paula, no Terreiro Tuntun Olokutun – Foto: Oni Sampaio
O encontro ficou marcado por momentos de tensão. Balbino Daniel de Paula, líder religioso e atual secretário de gestão e planejamento de Itaparica, recebeu duras críticas de ativistas durante a fala dele.
A reação ocorreu em meio a divergências ideológicas, já que a prefeitura de Itaparica integra a base do governo do estado, enquanto o Grupo de Coalizão tem se posicionado de forma crítica em relação à condução das consultas e aos impactos do projeto da Ponte Salvador–Itaparica.

Dédea Odelessi, líder religiosa – Foto: Gilsimara Cardoso
Segundo Dédea Odelessi, uma das coordenadoras do Grupo de Coalizão, o líder em questão, Balbino Daniel de Paula, é Ojé Sacerdote do culto a Babá Egun Ancestral do Ilê Agboulà e também exerce a função de Alapini, atuando entre outros terreiros da ilha. Na pauta em discussão, cada terreiro de Babá Egun é representado por seu próprio Alagbà, e atualmente quatro terreiros estão sendo representados por Balbino.

Dédea Odelessi, líder religiosa – Foto: Gilsimara Cardoso
Dédea ressalta ainda que todos os terreiros de Orixás e da maioria de Babá Egun Ilha de Itaparica já participam desde o início das pautas junto com o grupo de Coalizão. Sempre que necessário, o Grupo Coalizão mantém contato com os terreiros e realiza devolutivas sobre todos os atos e reuniões, assegurando que as decisões sejam tomadas de forma coletiva e transparente.
A sabedoria das crianças

Foto: Oni Sampaio
O evento também contou com a apresentação das crianças do terreiro Tuntun Olukotun. Um dos momentos mais marcantes foi quando todos estavam nervosos e apreensivos a apresentação foi interrompida por Eliana Falayo, a pedido de uma menina que queria cantar. A primeira frase da criança foi: “Eu vou cantar para acalmar vocês.” Foi uma das falas mais sábias e cruciais para o equilíbrio daquele diálogo sobre o projeto Ponte Salvador/ Itaparica.
Nossa religião africana ela é infinita não podemos deixar os poderes públicos passe por cima de nossa riqueza brigaremos por toda vida por esse culto egumgum sentenarios