Iniciativa, distribui bonecas pretas para crianças em situação de vulnerabilidade social e promove diálogos sobre representatividade, autoestima e combate ao racismo
Por Redação

campanha “Cadê Minha Boneca Preta?” Foto: Divulgação/FPC
Cadê Minha Boneca Preta? realizada pela Secretaria de Cultura da Bahia (SecultBA), por meio da Fundação Pedro Calmon (FPC) e das Bibliotecas Públicas do Estado. O projeto já distribuiu mais de mil bonecas pretas nas duas primeiras edições e, neste ano, retorna com a meta de ampliar ainda mais as doações.
O evento de lançamento começou em Salvador, no dia 2 de setembro, na Biblioteca Central do Estado da Bahia, e segue para Itaparica na próxima quarta-feira, 03 de setembro, na Biblioteca Juracy Magalhães Jr. A arrecadação continuará até 27 de novembro, quando as crianças receberão as bonecas em uma programação cultural com atividades artísticas e de valorização da identidade negra.
A abertura da campanha apresenta uma programação repleta de atividades culturais e educativas. Em Salvador, no dia 2, as ações tiveram início às 9h, com a contação de história do livro “Eu Amo o Meu Black”, de Débora Maria. Em seguida, o público acompanhou a história “Meninas Negras”, da autora Madu Costa, apresentada por Argemira Silva. Às 10h, o Grupo de Câmara Opaxorô (APAE) realizou uma intervenção artística. Logo depois, às 10h30, autoridades realizaram falas institucionais. Para encerrar a manhã, a artista visual Vanessa Barbosa e a estudante Flor de Maria participaram de um bate-papo sobre representatividade negra na infância, mediado por Rebeca Táríque.
Já em Itaparica, na próxima quarta-feira, 03, a programação começará às 10h com a peça teatral “Minha Boneca, Minha História”, tema da campanha em 2025. Em seguida, as crianças da comunidade apresentarão o Manifesto Infantil. Ao longo da manhã, haverá falas institucionais, a apresentação musical do Coral Ilha das Crianças, a inauguração da Árvore da Representatividade, contações de histórias com bonecas Abayomi e rodas de conversa sobre o direito das crianças negras de se reconhecerem no ato de brincar.
Mais do que entregar brinquedos, a campanha promove trocas de ideias, estimula a criatividade e fortalece a autoestima das crianças por meio da ludicidade e do brincar. Além disso, incentiva discussões sobre literatura, cultura, ancestralidade e enfrentamento ao racismo.
Crescimento da campanha
A Biblioteca Juracy Magalhães Jr., em Itaparica, idealizou a campanha em agosto de 2023. Agora, o projeto integra o Sistema de Bibliotecas Públicas da Bahia, o que garante sua ampliação e fortalecimento como política pública.
Segundo Tamires Conceição, diretora de Bibliotecas Públicas da Bahia, a iniciativa cumpre o papel social das bibliotecas:
“As bibliotecas são equipamentos vivos e em constante transformação. Por isso, devem dialogar com temáticas sociais que auxiliam na formação de um cidadão crítico e antirracista. Essa atividade representa o pertencimento da infância preta, por meio da ludicidade e da construção de diálogos com personalidades que defendem a pauta racial. Ao reconhecer a relevância dessa iniciativa, chegamos à 3ª edição, confirmando o projeto enquanto política pública de Estado.”
Para Soraia Alves, idealizadora da campanha e diretora da Biblioteca Juracy Magalhães Jr., a ação nasceu de uma experiência pessoal que se transformou em movimento coletivo:
“A campanha nasceu de uma dor que me acompanha desde a infância. Enquanto mulher negra, cresci sem me ver representada nos brinquedos, nos livros e na televisão, achando que eu não tinha direito ao sonho, ao afeto e à alegria de simplesmente existir. Essa ausência feriu profundamente minha autoestima, mas, assim como as ostras transformam o incômodo do grão de areia em pérolas, eu não rejeitei essa dor: acolhi, envolvi e transformei. E o que era ausência e ferida se tornou essa campanha, que leva para crianças em situação de vulnerabilidade social aquilo que me foi negado: representatividade, afeto, beleza, orgulho e a certeza de que toda criança pode se reconhecer nos brinquedos e nas histórias que afirmam sua identidade. Na primeira edição arrecadamos 372 bonecas, na segunda 700. Hoje, a campanha é uma pérola nascida da minha dor, mas que brilha como gesto de resistência, cura e amor coletivo.”
Com esse propósito, a 3ª edição da campanha “Cadê Minha Boneca Preta? – Minha Boneca, Minha História” reafirma o compromisso das bibliotecas públicas da Bahia em estimular a reflexão crítica, fortalecer a identidade negra e construir um futuro mais justo e diverso.