Comunidade cresce a cada dia, o “Ferro Velho ” se tornou uma comunidade com mais de 190 moradores.
Por Gilsimara Cardoso

Comunidade Nova Esperança – Foto: Oni Sampaio
Entre coqueiros, árvores da Mata Atlântica e nascentes de água cristalina, ergue-se uma comunidade que carrega no nome a força do sonho coletivo,” Nova Esperança”. Criada em 2013, hoje abriga cerca de 190 famílias que, apesar das adversidades, transformam em morada uma terra antes conhecida pela violência e pelo medo.

Comunidade Nova Esperança – Foto: Oni Sampaio
A região, popularmente chamada de Ferro Velho, ainda guarda marcas de um passado turbulento. Histórias de crimes brutais permanecem vivas até na memória de quem nunca pisou ali. Logo na entrada, o cenário é impactante: dezenas de sucatas de carros se acumulam na rua principal, lembrando um cemitério de ferro e dando nome à localidade. Somam-se a isso as ruas enlameadas e as passagens de água improvisadas, que escancaram a precariedade da infraestrutura. Mas a realidade, muitas vezes, não é o que se imagina de fora, entre a lama e o abandono na entrada da comunidade, um pouco mais a frente, há vida pulsando, solidariedade e luta cotidiana.

Comunidade Nova Esperança – Foto: Oni Sampaio
Na associação de moradores, fica evidente que a organização comunitária é o pilar da sobrevivência. Cada melhoria, da drenagem da água às pequenas áreas de convivência, nasce do esforço coletivo. Os moradores resistem não apenas às dificuldades impostas pelo terreno e pela falta de serviços públicos, mas também às constantes ameaças da especulação imobiliária que ronda o território. “Aqui é um lugar bom, não tem violência como dizem por aí. Moram famílias aqui, a gente cuida desse lugar como pode”, afirma uma moradora, revelando no tom firme o desejo de mudar a imagem que se construiu sobre a comunidade.

Comunidade Nova Esperança – Foto: Oni Sampaio
As casas, erguidas com trabalho próprio, convivem com memórias dolorosas. Uma delas é a do antigo caseiro, assassinado de forma cruel, lembrança que assombra a paisagem. Mesmo assim, no espaço mais plano da comunidade, transformado em ponto de encontro, floresce vida, famílias se reúnem e iniciativas sociais encontram terreno fértil, como a ação de apoio a dependentes químicos conduzida por um líder religioso.

Comunidade Nova Esperança, Rio São Simão – Foto: Oni Sampaio
O trajeto pela comunidade leva até o Rio São Simão, águas que correm limpas e carregam histórias de fé. Próximo dali, na Fazenda Paratinga, o rio onde o Santo São Simão, fez a única aparição e foi por anos local sagrado de banho dos fiéis. Para os moradores, é ainda hoje um espaço de memória e espiritualidade, onde a natureza resiste à exploração e onde a comunidade reafirma seus vínculos com a terra.

Comunidade Nova Esperança – Foto: Oni Sampaio
A liderança comunitária, marcada pela dureza da luta, é sustentada pela convicção de que Nova Esperança é mais do que um espaço geográfico, é um modo de viver. A resistência, no entanto, tem um preço. O atual presidente da associação carrega na mente as lembranças da violência, “já fui ameaçado e agredido com coronhadas.” Afirma. O passado recente reforça o alerta, o presidente anterior e a esposa dele foram assassinados de forma brutal.

Comunidade Nova Esperança – Foto: Acervo Pessoal
Ainda assim, a comunidade não acredita que os crimes anteriores tenham ligação com a terra, e Nova Esperança segue erguida, firmada no propósito de permanecer. Em fevereiro deste ano, um documento falso de desapropriação reacendeu o temor de expulsão. O episódio gerou protestos na rodovia, mostrando que a resistência não é apenas silenciosa, mas também pública.

Manifestação na BA-001 – Foto: Acervo Pessoal
De acordo com os moradores as terras são devolutas do estado, “essas terras foram abandonadas após a morte do dono, faz tempo, eu não sei te explicar direito, mas essas terras estavam aí, não sabemos se de fato esse senhor era mesmo o dono.” afirma uma moradora que não quis se identificar.

Comunidade Nova Esperança – Foto: Oni Sampaio
As terras devolutas são áreas pertencentes ao poder público que não têm dono particular nem destinação definida. Em geral, nunca foram registradas em nome de alguém ou retornaram ao patrimônio do Estado, e podem ser usadas para reforma agrária, preservação ambiental ou outros projetos de interesse público.

Comunidade Nova Esperança – Foto: Oni Sampaio
Há quase 15 anos, famílias fincam raízes na terra. Entre a vegetação, lembranças e união, expostos a ameaças e protegidos pela fé, Nova Esperança resiste. Em cada roçado de mandioca, em cada gesto coletivo, está a reafirmação de um direito, o de existir e permanecer em terra fértil.