O futebol feminino movimenta comunidade e provoca reflexão sobre o papel do esporte na Ilha de Itaparica

Por Gilsimara Cardoso

Time união da Ilha – Foto: Gilsimara Cardoso

A bola rolou no campo da Misericórdia no último domingo, 03, a 1ª Copa Maria Felipa de Futebol Feminino chegou ao fim com jogos emocionantes e um alerta, o esporte transforma vidas, mas precisa ser apoiado com seriedade.

O Campo Jaqueirão, na comunidade da Misericórdia, foi palco de dois jogos decisivos. Na grande final, o União da Ilha venceu o Amoreiras por 3 a 1, consagrando-se o primeiro campeão da Copa. E o time da Conceição conquistou o terceiro lugar, vencendo o Misericórdia por 2 a 0.

Time Amoreiras – Foto: Gilsimara Cardoso

Mais que um campeonato, a Copa foi um ato de resistência e união comunitária. A competição começou em 26 de janeiro deste ano e marcou a primeira edição de uma copa de futebol feminino na Ilha de Itaparica, reunindo atletas de diversas localidades da Ilha e da região metropolitana de Salvador.

Time Conceição – Foto: Gilsimara Cardoso

A Copa Maria Felipa de Futebol Feminino contou com uma coordenação dedicada formada por Simone Guimarães, Edno Reis, Geraldo de Paula, Fábio Guerra, Gilsimara Cardoso, Pedro dos Santos, Antônio Leão e Valdomiro Alcântara. Seis times participaram desta edição- União da Ilha, Amoreiras, Conceição, Misericórdia, América e Catita, promovendo a valorização do futebol feminino e o fortalecimento das comunidades através do esporte. “ O mais importante a gente conseguiu, fomentar o futebol feminino amador e profissional na Ilha de Itaparica, agora não podemos parar.” afirma Simone Guimarães, uma das coordenadoras da copa.

Imagens: Lívia Ferreira, Fábio Guerra, Simone Guimarães e Gilsimara Cardoso

Nelson Mandela já dizia, “o esporte tem o poder de mudar o mundo. Ele tem o poder de inspirar. Tem o poder de unir as pessoas de uma maneira que poucas coisas conseguem.” Foi com esse intuito que a Copa Maria Felipa uniu comunidades, empoderou mulheres, criou referências e reacendeu a esperança da juventude da Ilha de Itaparica. Assim como Mandela usou o esporte para reconciliar uma nação, a Copa revelou o potencial transformador do futebol feminino em territórios historicamente negligenciados.

Arquibancada do Campo da Misericórdia – Foto: Gilsimara Cardoso

Mas para que o esporte cumpra esse papel social e cultural, é preciso mais do que paixão e boa vontade. É necessário investimento público contínuo, que vá além da construção de equipamentos, é preciso garantir manutenção, acesso e estrutura digna.

Coordenação da Copa- Foto: Gilsimara Cardoso

O Campo Jaqueirão, palco da final, é um espaço simbólico da comunidade da Misericórdia, mas se encontra em condições precárias, com trechos alagados e sem qualquer manutenção adequada. A Prefeitura de Itaparica até cedeu areia na véspera da final, mas não realizou a distribuição pelo campo. Coube à própria comunidade e aos coordenadores da Copa espalhar a areia com carrinhos de mão, garantindo da melhor forma possível diante das circunstâncias, que a final pudesse acontecer.

Vestiário do Campo da Misericórdia – Foto: Gilsimara Cardoso

Além disso, o campo possui banheiros e vestiários, mas hoje estão ocupados por um comerciante, impossibilitando o uso livre pelas atletas e torcedores. “O prefeito precisa ajeitar esse campo pra gente ter um esporte com mais qualidade. Com o campo molhado, a gente não tem como apreciar o futebol delas dessa maneira”, desabafa Guto, torcedor e morador da Misericórdia.

Morador marcando o campo – Foto: Gilsimara Cardoso

Apesar dos obstáculos, a final foi marcada por emoção e participação popular. Moradores ajudaram na preparação do campo, lotaram a arquibancada, e o comércio local acolheu e apoiou o evento. A cobertura da imprensa foi feita de forma improvisada do alto da casa de Isis Santana, moradora que transformou a residência dela em vestiário das atletas e camarote da imprensa. “É um prazer ajudar… depois eu mando o valor do aluguel”, brincou com um sorriso no rosto.

Final da Copa Maria Felipa – Foto Gilsimara Cardoso

A live do Jornal Atualize foi transmitida desse improviso, mostrando que, mesmo sem estrutura oficial, a comunidade soube dar um show de solidariedade. Na cobertura da final também estiveram presentes o Canal PP e a Rádio Mar Grande, os demais veículos da Ilha acompanharam a copa e apoiaram na divulgação e resultados dos jogos.

Geraldo de Paula , coordenador da Copa Maria Felipa – Foto: Gilsimara Cardoso

Para Geraldo de Paula, coordenador e idealizador da Copa Maria Felipa, apesar dos desafios a expectativa de um futuro com o futebol feminino mais valorizado é a principal motivação para a continuidade, “Eu sinceramente espero o reconhecimento dos poderes públicos das duas prefeituras. Pois nós fizemos uma copa sem investimento dos poderes públicos. Graças a Deus conseguimos realizar a 1ª Copa Maria Felipa da Ilha de Itaparica, e com fé em Deus, em 2026, será melhor ainda . “ Conclui Geraldo.

Manuela Pereira, atleta do time da Conceição – Foto: Gilsimara Cardoso

O primeiro jogo foi emocionante, a oração das atletas antes da partida não minimizou os cartões amarelos e o pênalti, mas garantiu um futebol bonito de se ver. No terceiro lugar, um encontro especial, Luiza, zagueira do Misericórdia, foi a atleta mais jovem da Copa com apenas 12 anos, jogando contra Manuela Pereira, 43, que marcou um dos gols da vitória do Conceição, ela já é avó.

Troféu de melhor goleira, Mileide Lima – Foto Gilsimara Cardoso

Na cerimônia de premiação, dois nomes brilharam com força especial, Drika Santos, a camisa 10 do Amoreiras, que balançou as redes nove vezes em apenas três jogos, conquistando o título de artilheira da Copa, e Mileide Lima, goleira do União da Ilha, que garantiu com firmeza o título de melhor goleira da competição. Adversárias em campo, mas unidas pelo mesmo sonho, essas duas mulheres entraram para a história como as primeiras atletas da Ilha de Itaparica a disputarem a final da Copa Maria Felipa carregando consigo títulos que simbolizam garra, talento e representatividade. Mais do que troféus, elas levaram para casa o reconhecimento de uma comunidade inteira e a certeza de que o futebol feminino da Ilha tem nome, rosto e força para seguir crescendo.

Artilheira do campeonato Drika Santos – Foto: Gilsimara Cardoso

Essa premiação foi garantida graças ao apoio do ex-jogador, ídolo do futebol baiano, atual deputado estadual Raimundo Nonato Tavares da Silva, Bobô , que elegantemente contribuiu com medalhas e troféus para as atletas. Bobô foi campeão brasileiro em 1988, jogando pelo Bahia, campeão paulista em 1989, jogou no Flamengo, Fluminense, Corinthians e Internacional, e em 2025 foi exemplo na 1ª Copa Maria Felipa de Futebol Feminino, ele sutilmente segue a trajetória de vida lado a lado com o esporte, mesmo fora de campo.

Foto: Gilsimara Cardoso

Vale destacar a equipe de arbitragem que esteve presente na copa desde o início, souberam lidar com as meninas e mulheres da copa, com sabedoria e compreensão, Geraldo Santos e Domingos da Silva.

Torcida – Foto: Gilsimara Cardoso

Para os coordenadores, o projeto não para por aqui. A equipe está empenhada em buscar editais, parcerias com órgãos esportivos e recursos estaduais e federais, para que a Copa Maria Felipa cresça e continue valorizando o futebol feminino na Ilha. “Estamos confiantes. Ficaremos mais fortes. Vamos buscar todo tipo de apoio para melhorar ano após ano”, diz Simone Guimarães.

Simone Guimarães dando entrevista para Rádio Mar Grande – Foto: Gilsimara Cardoso

Embora a copa tenha tido o apoio do comércio local da Misericórdia, da Essencial Cred, do Jornal Atualize, o poder público local esteve ausente em várias frentes. A Copa pediu apoio aos governos municipais de Itaparica e Vera Cruz, mas não houve doações de água, alimentação, transporte ou custeio da arbitragem.“Boa parte da arbitragem foi paga com vaquinhas organizadas pela própria coordenação”, revela Simone.

Eliana Pereira (uniforme preto) com a camisa do União da Ilha, ao redor dela, atletas do time Amoreiras – Foto: Gilsimara Cardoso

Não há como encerrar essa edição histórica da 1ª Copa Maria Felipa sem reverenciar uma das figuras mais marcantes da competição, Eliana Pereira, capitã do time União da Ilha. Ela chegou com humildade, mas logo mostrou técnica e talento. Dona de uma habilidade nata, ela foi presença brilhante em todas as partidas, protagonizando jogadas espetaculares que arrancaram aplausos dentro e fora de campo. Com equilíbrio, leitura de jogo, técnica apurada e uma liderança silenciosa, mas potente, Eliana uniu o time, inspirou as colegas e mostrou que o futebol feminino da Ilha tem alma, raça e coração.

Foto: Gilsimara Cardoso

Mas o brilho de Eliana vai além das quatro linhas. A postura de respeito e empatia com as adversárias, a forma de conduzir o jogo com firmeza e gentileza, tornaram ela uma verdadeira embaixadora do espírito da Copa. Uma atleta ímpar, uma mulher de fibra, que hoje inspira meninas, jovens e mulheres a acreditarem que o esporte também é lugar de protagonismo feminino.

Obrigada, Eliana, por representar o que há de mais bonito no futebol. Você é símbolo de força, talento e esperança para o esporte feminino.

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