Família Bikeagle: Com a casa na bicicleta e o coração aberto rumo ao mundo

Crônica semanal, Santo Antônio de Jesus, Bahia

Por Nazareth Reales

Loja Planeta em Santo Antônio de Jesus – Foto: Acervo Pessoal

— E essa casa com rodas? Pra onde vocês vão?
— Dando a volta ao mundo… de bicicleta.
— Sério!? Com uma criança!?
— Sim. Com nosso filho, Thomás, e com Polar, o cachorro e guardião.

Assim começam muitas das conversas que vivemos nesta jornada que atravessa o Brasil por seu coração mais profundo. Somos a Família Bikeagle: Andrés, Nazarerh, Thomás e Polar. Viajamos com a casa na bicicleta, com sonhos nas alforjes, compartilhando essa travessia que vai da Colômbia até a Argentina… e além.

Cada semana é uma aventura, uma lição, um reencontro com o essencial.

Despedida de Muniz Ferreira – Foto: Nazareth Reales

☕ Despedidas com aroma de café

Saímos de Muniz Ferreira com o coração aquecido, envoltos em abraços e no cheiro de café. Dona Rosi, que nos abriu as portas da casa dela, ainda em construção, não só nos acolheu como também recebeu de Andrés a instalação completa da rede elétrica como forma de agradecimento. Foi uma despedida simples, mas cheia de afeto genuíno: ela, as filhas dela, os vizinhos, todos vieram se despedir como se estivéssemos deixando uma pequena família adotiva.

Família de Alessandra – Foto: Acervo Pessoal

A poucos quilômetros dali, Alessandra, uma seguidora das redes, nos esperava com uma surpresa: um escondidinho caseiro, quentinho e farto. “Isso é tudo o que posso oferecer, mas é de coração”, disse ela. E nem imagina o valor de um prato de comida depois de pedalar sob sol escaldante ou na chuva e no frio.

Almoçamos entre sorrisos, histórias e sonhos compartilhados, com o filho dela ,Gabriel, e com a mãe dela . Saímos agradecidos, de barriga cheia e alma também.

Foto: Nazareth Reales

🚲 Subidas, incerteza e barraca sob a chuva

Sabíamos que o caminho até Santo Antônio de Jesus não seria fácil. A altimetria já dizia tudo: subidas longas, duras, desafiadoras. Com nossas bicicletas carregadas, cada metro conquistado pesava nas pernas. Mas sabíamos também que a paisagem valeria a pena.

Foto: Nazareth Reales

Thomas, como sempre, seguia firme, determinado. Cuidamos dele entre nós, no centro, como o coração do pelotão. Ele pedala com força, mas, acima de tudo, com alegria. No seu ritmo, sem pressa, mas sem parar.

A tarde avançou e a chuva nos alcançou. A grande pergunta do dia era: onde vamos dormir hoje? Visitamos três postos de combustível, mas era domingo, não havia gerentes, e os funcionários não podiam autorizar o uso do espaço para armarmos a barraca. As horas passavam, as gotas continuavam a cair e a incerteza apertava.

Fachada do Restaurante em Santo Antônio de Jesus – Foto: Acervo Pessoal

Finalmente, encontramos um pequeno restaurante que estava fechando. Explicamos a situação, estávamos cansados, molhados e com frio. Com certa hesitação, aceitaram: “Podem ficar, mas por favor cuidem do local.” Armamos nossa barraca sob um telhado que, naquela noite, nos pareceu um palácio. Sem banheiro, sem chuveiro, mas em segurança.

Andres e Carlos Conceição da equipe da Secretaria de Cultura, Turismo e Juventude da prefeitura de Santo Antônio – Foto: Nazareth Reales

Nos preparamos para dormir, entre cobertores e o som da chuva. E então…

Luzes da polícia.
Uma voz: “Quem está aí?”

Era um carro da prefeitura, a voz era de Carlos Conceição, agente da Secretaria de Cultura, Turismo e Juventude da Prefeitura de Santo Antônio de Jesus. Alguém havia avisado que uma família de ciclista colombiana estava viajando no frio. Vieram se certificar de que estávamos bem.

“Pela manhã, a Secretaria de Esportes e Assistência Social virá conhecer vocês e oferecer ajuda como deve ser”, disseram. Naquele momento, entendemos que não estávamos sozinhos.

Imprensa de Santo Antônio de Jesus – Foto: Acervo Pessoal

💛 Em Santo Antônio, nos sentimos como heróis

No dia seguinte, eles chegaram. Tino Alves, da rádio Andaiá FM, Leo Valente, do Blog do Valente, Cau Mercês, secretário de esportes. E não vieram sozinhos, vieram com soluções, com sorrisos, com apoio. Nos ofereceram hospedagem digna na Pousada Santo Antônio, alimentação no Centro POP e entrevistas que divulgaram nossa história e jornada à comunidade, onde até empresários se uniram para apoiar nossa viagem.

Santo Antônio de Jesus nos acolheu como nunca antes em nossa jornada. Sentimo-nos… importantes. Como se o propósito da nossa viagem, que é muito mais do que simplesmente pedalar, tivesse sido compreendido.

Pousada de Santo Antônio lugar que passamos a noite – Foto: Nazaré Reales

Sentimo-nos como aqueles personagens de livros e documentários que inspiram outras pessoas. Sentimo-nos acolhidos, compreendidos.

Grupo de ciclistas em Santo Antônio de Jesus – Foto: Acervo Pessoal

E não apenas pela mídia. Também pela comunidade ciclista, pelas famílias que nos convidaram para refeições, pelas crianças que queriam brincar com Thomas, pelos curiosos que perguntavam com carinho, pelos empresários que contribuíram com nosso sonho e viagem.

Foto: Nazareth Reales

Em meio a tanta emoção, refletimos:

“Isso não é apenas uma aventura. É um modo de vida que deseja semear esperança nos corações daqueles que encontramos pelo caminho.”

📣 O poder de contar histórias

Família de Gilsimara Cardoso – Foto: Oni Sampaio

Nada do que vivemos em Santo Antônio de Jesus teria sido possível sem o papel da imprensa local e independente. Foi graças à jornalista Gilsimara Cardoso, do Jornal Atualize, que nossa história começou a circular. Ela acreditou em nós quando nos encontrou na Ilha de Itaparica. Nos ouviu com a alma e escreveu com o coração.

E a partir daquele artigo, portas se abriram. Outras prefeituras nos acolheram. Outras pessoas se aproximaram oferecendo apoio. Entendemos que uma história bem contada tem o poder de transformar realidades.

Sopa em Santo Antônio de Jesus – Foto: Acervo Pessoal

🌍 E por que tudo isso importa?

Porque nossa viagem também é uma declaração de princípios:
Que é possível viver de outra forma.
Que é possível educar em movimento.
Que a família é uma força capaz de transformar o mundo.
Que sonhos são para serem perseguidos, mesmo que pesem como uma casa sobre duas rodas.

E se você que está lendo isso sentiu um arrepio no peito, uma faísca acendendo, convidamos você a viajar conosco. Não precisa de alforjes nem passaporte: só de vontade de sonhar.

📌 Vem com a gente?

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