Iniciativa planta esperança no solo fértil dos manguezais e mobiliza comunidades para cuidar da natureza e do futuro
Por Gilsimara Cardoso

Foto: Dakorô
Nos silêncios vivos dos manguezais da Baía de Todos-os-Santos, algo floresce além da vegetação. São sementes de consciência, gestos coletivos e histórias contadas com as mãos sujas de lama e o coração cheio de propósito. O Projeto Recife das Pinaúnas, que acaba de concluir a segunda etapa, já mobilizou 280 pessoas, retirou mais de 1,2 tonelada de resíduos sólidos e plantou 1.450 mudas de mangue vermelho nos municípios de São Francisco do Conde e Madre de Deus. Agora, prepara as raízes para se expandir até Candeias.
A fase mais recente foi encerrada em junho, em Madre de Deus, onde o projeto fez brotar, entre crianças e adolescentes, um novo olhar sobre o ambiente em que vivem. Cerca de 130 pessoas participaram diretamente, com destaque para os alunos do 9º ano do Complexo de Educação Municipal Professor Magalhães Netto, 12 deles formados como jovens monitores ambientais, e para estudantes do 5º ano da Escola Municipal Deijair Maria Pinheiro. Ali, entre braços unidos, 800 novas mudas de mangue foram firmadas na terra úmida, e 760 quilos de resíduos foram removidos como quem limpa o quintal de casa.

Foto: Dakorô
Para Kauany Ferreira, uma das jovens formadas como monitora, o impacto vai além do ambiental. “Quando me inscrevi no projeto, não sabia que ia gostar tanto e levar tão a sério. Estamos levando conhecimento para crianças e jovens, indo aos mangues, fazendo limpeza e replantio. O pouco que fazemos já está ajudando muita gente a se conscientizar. Eu amo fazer parte desse projeto.”
É na simplicidade firme da fala de quem ainda é considerado inocente e puro que ecoa, o que muitos adultos ainda não entenderam, o cuidado com a terra começa cedo e começa em casa. Pedro Dourado,10, estudante do 5º ano da Escola Municipal Deijair Maria Pinheiro, também participou das atividades e, mesmo ainda tão jovem, compartilhou uma opinião madura, “O mangue é muito importante para a nossa comunidade, que tem muita poluição e desmatamento. Estamos trabalhando, limpando, plantando, para ajudar a natureza.”

Foto: Afonso Santana
Leonardo da Silva, outro estudante participante, resume o espírito coletivo do projeto. “Além de ajudar o meio ambiente e conscientizar as pessoas, o projeto também une os colegas num trabalho muito bem organizado”, disse desejando a continuidade da ação em sua escola. “Que esse projeto nunca tenha fim.”
Para a educadora ambiental Deusdélia Andrade, coordenadora do Recife das Pinaúnas, cada muda plantada carrega mais que folhas, carrega futuro. “Nós, do Projeto Recife das Pinaúnas, temos como objetivo a restauração de ecossistemas marinhos costeiros e, com o Movimento Replantio, temos tido a oportunidade de trazer para os municípios da Região Metropolitana de Salvador, desta vez em Madre de Deus, um trabalho focado na recuperação dos manguezais. Mais do que promover a limpeza e restauração com o plantio de novas mudas, nosso trabalho visa contribuir para a formação de uma nova geração de guardiões ambientais. O apoio da Acelen tem sido essencial para que possamos ampliar o alcance das nossas ações e consolidar uma cultura de cuidado com o meio ambiente entre crianças, adolescentes e toda a comunidade.”

Foto: Afonso Santana
O projeto teve início no segundo semestre de 2024, no distrito do Caípe, em São Francisco do Conde, onde 150 pessoas foram envolvidas em ações de educação ambiental, culminando na retirada de 480 quilos de resíduos e no plantio de 650 mudas.
Para Ila Leonelli, gerente de RH e Responsabilidade Social da Acelen, o impacto do projeto ultrapassa os limites do manguezal, “O Projeto Recife das Pinaúnas é um exemplo do poder transformador que a educação ambiental pode ter quando alinhada ao protagonismo juvenil e ao envolvimento comunitário. Na Acelen, acreditamos que cuidar do meio ambiente é também investir nas pessoas. Ao apoiar iniciativas como essa, reforçamos nosso compromisso com a sustentabilidade, com o território e com a formação de uma nova geração consciente e engajada”, destaca Leonelli.
Agora, os olhos do projeto se voltam para Candeias, onde o Movimento Replantio deverá chegar ainda este semestre. Em cada muda fincada na lama, a certeza que preservar o mangue é preservar a vida. E onde há mangue, há raiz; onde há raiz, há resistência; onde há resistência, há esperança.