Consulta Pública da Ponte Salvador-Itaparica levanta críticas, posicionamentos e pedido por ações antes do início das obras.

Por Gilsimara Cardoso

Foto: Gilsimara Cardoso

A consulta pública realizada pela Sepromi (Secretaria de Promoção da Igualdade Racial) , em parceria com a Concessionária Ponte Salvador-Itaparica, reuniu comunidades tradicionais da Ilha de Itaparica para discutir os impactos do projeto da construção da Ponte Salvador- Itaparica com início de obras previsto para junho 2026.

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O encontro foi marcado por falhas de comunicação, ausência de dados técnicos e questionamentos sobre a transparência.

Os participantes também relataram dificuldades para visualizar os slides, um problema que gerou descontentamento da comunidade, principalmente por se tratar de uma grande construção, “somente na sondagem foram gastos 200 milhões de reais, poderia ter vindo no mínimo um telão de led. ” Relata Ludimilla Teixeira, moradora da Ilha de Itaparica.

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Durante a consulta pública foi ressaltado que qualquer decisão sobre a construção da ponte precisa, antes de tudo, considerar e discutir com a comunidade local as graves carências estruturais da região. De acordo com os representantes das comunidades a Ilha já enfrenta a falta de hospital com UTI e maternidade, UTI neonatal, creches, abastecimento regular de água e energia elétrica, coleta de lixo adequada, aterro sanitário, saneamento básico, universidade, cursos técnicos e transporte público. “Já vivemos tudo isso hoje. Com o crescimento populacional que a ponte vai provocar, a tendência é que a situação piore ainda mais. Não podemos aceitar um projeto desse porte sem contrapartidas reais para quem mora aqui”, alerta Ludimilla.

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Durante a apresentação, representantes não souberam informar detalhes sobre estudos ambientais, como datas e duração do levantamento de espécies da flora e como serão feitas as obras na rodovia BA -001, o que gerou dúvidas sobre a consistência das informações. Carlos Prates, Gerente de Comunicação e Relações Institucionais do Consórcio Ponte Salvador- Itaparica, afirmou durante a apresentação que, “ a Concessionária está entrando agora nesse processo de diálogo com a comunidade” .

Carlos Prates, Gerente de Comunicação e Relações Institucionais do Consórcio Ponte Salvador-Itaparica – Foto: Gilsimara Cardoso

Carlos também esclareceu que serão 7 mil empregos, durante a obra, para trabalhadores locais, mas para cargos de operadores de máquinas maiores essas vagas serão disponibilizadas para profissionais chineses com conhecimentos operacionais. “Equipamentos que não tem no Brasil, super guindastes, central de concreto, são equipamentos que são operados por pessoas já capacitadas nessa área há muitos anos. Então você não consegue dar um curso de um mês, dois meses para a pessoa operar esses equipamentos. Então o que vem para cá é um número restrito de profissionais de fora chineses, exclusivamente para esses trabalhos que são restritos e para manipular esses equipamentos que são muito especiais. Mas o restante da mão de obra é um compromisso da concessionária em contratar a mão de obra local. “ Justifica Carlos.

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Foram apresentadas informações que divergem do que está publicado no site oficial do projeto. Um dos pontos controversos diz respeito à ponte estaiada a principal estrutura sobre o canal, cujo vão central, segundo Carlos Prates, terá 482 metros de comprimento. No entanto, o site oficial do projeto aponta um vão de 900 metros. Outro ponto que gerou questionamentos foi sobre o pedágio. Durante a apresentação, foi afirmado que os nativos da Ilha de Itaparica estariam isentos da cobrança. No entanto, o site oficial não faz menção à isenção para moradores. “O modelo de cobrança funciona da seguinte forma: um motorista que entre na ilha por Salvador pagará R$ 45 ao chegar em Mar Grande. Caso ele saia da ilha pela Ponte do Funil, pagará mais R$ 5. No retorno dentro de 24 horas, o usuário terá desconto – pagará apenas R$ 5 na volta em Mar Grande, em vez do valor cheio. Na prática, isso significa que uma viagem de ida e volta Salvador-Itaparica, dentro de 24 horas, custará R$ 50 (45+5), e não R$ 90. ” Trecho retirado do site https://pontesalvadoritaparica.com.br/perguntas-frequentes/ . Essas informações estão disponíveis online.

As contradições reforçam a necessidade de maior transparência e atualização das informações oficiais, especialmente diante das preocupações das comunidades locais.

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O indígena Rafael Tupinambá questionou os impactos da construção da ponte e das rodovias nos territórios e áreas de preservação. Ele abordou a falta de aceitação e de transparência, “é preciso que essas consultas sejam mais informadas, porque todas as reuniões que a gente presenciou, é tudo genérico. Não traz detalhes do que vai acontecer, inclusive para gente se preparar, porque já que vocês querem fazer por cima da vontade dos nativos da Ilha de Itaparica, porque isso ficou claro em todos os encontros.” Afirma Rafael.

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A linguagem utilizada também foi alvo de críticas foi pedido pelos representantes das comunidades que fosse explicado claramente os impactos e as especificações dos órgãos envolvidos. O historiador Felipe Brito fez uma análise negativa sobre a comunicação estabelecida nesta consulta, “houve um esforço por parte do pessoal da Sepromi, né? Que é o órgão do estado que está aqui. Mas a linguagem ainda é muito distante do que o nosso pescador, essa marisqueira, entende. E aí a gente vê por parte do intregante do consórcio fazer certas insinuações. Eu sinto muito por ele, mas ele vai ter que explicar nos termos que um pescador e a marisqueira entendam. Ah, o processo é complexo? É complexo. Mas tem que ser explicado. Nós temos que saber. Se nós somos os principais afetados, ele vai ter que falar a nossa língua. Então, tem que ter um esforço para fazer o material, para explicar a essas pessoas.

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A audiência evidenciou a necessidade de mais escuta, transparência e respeito aos direitos das comunidades tradicionais, ao mesmo tempo que trouxe a expectativa de que as comunidades sejam ouvidas antes de qualquer tomada de decisão sobre a construção da ponte, “eu acredito que vai ter reação por parte do governo, principalmente porque eles ouviram aqui, está filmado e vai ficar registrado que a grande maioria das pessoas que estão aqui presentes hoje são contra a ponte Salvador-Itaparica. Que o projeto não convence mais ninguém. Até porque é um projeto que nos coloca debaixo da ponte. Conclui Felipe.

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As contribuições da comunidade foram sistematizadas e serão incluídas em ata. De acordo com o representante da Sepromi, Valdicley Vilas Boas, “a partir dessa consulta vai elaborar um documento que vai enviar a comissão para a resposta administrativa com todas as demandas de vocês e questionamentos e o relatório consolidado da consulta e depois até a devolutiva para comunidade. ” Explica Vilas Boas.

2 Responses

  1. À ponte vai trazer benefícios para à nossa cidade com certeza. Presizamos de trabalho quê não sejam só as prefeituras. Claro quê temos que discutir sobre os impactos sem dúvida alguma. Mas não só presizamos dá Ponte como ela é necessário pára nós. Temos 30 anos vivendo só na promessa será que vai levá mais 30..

  2. Quando algum governo burguês escutou e acatou a opinião de comunidades tradicionais? A quem vai servir essa ponte? E a dívida que vai gerar? Esse dinheiro poderia ser usado para melhorar a vida da população nativa e daquelas pessoa que utilizam a ilha como lazer. Conforme já citado, educação, saúde, lazer e cultura poderiam se otimizar. A travessia poderia ser de melhor qualidade e quantidade.

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