Comunidade de Conceição celebra Independência com festa cultural e comemora os 18 anos do Samba de Roda 2 de Julho.

Por Gilsimara Cardoso

Festa de 2 de Julho em Vera Cruz – Foto: Gilsimara Cardoso

A celebração da Independência da Bahia, comemorada em 2 de julho, ganhou contornos de emoção, luta e resistência cultural na comunidade de Conceição, em Vera Cruz. A festa, organizada pela comunidade com o apoio da Prefeitura de Vera Cruz e do comércio local, começou a ser articulada no final de abril e foi concretizada na última semana, reunindo manifestações culturais, fomentação na economia e visitantes de várias partes do país.

Nildete Vieira na Festa de 2 de Julho em Vera Cruz – Foto: Gilsimara Cardoso

Foi muita luta, muita busca. E valeu a pena? Valeu, lógico que valeu. E vai continuar valendo a pena, porque temos muito que agradecer à comunidade que apoia, aos visitantes e a vocês da imprensa que estão nos acompanhando”, declarou Nildete Vieira, uma das organizadoras da festa.

Entre os momentos mais marcantes da programação, esteve o aniversário de 18 anos do grupo Samba de Roda 2 de Julho, símbolo da resistência e valorização da cultura popular na região. Com bolo, música e muita emoção, o grupo reuniu moradores e convidados para celebrar quase duas décadas de trajetória.

Adailton Melo, presidente do Grupo 2 de Julho – Foto: Gilsimara Cardoso

É muita dedicação. É como estar num barco: tem que saber remar, conhecer a maré, cuidar da tripulação. Não é fácil manter um grupo como esse. É trabalho, é paciência, é ter carisma com os componentes, puxar e polir cada um, como quem planta uma semente e deseja ver o fruto nascer”, afirmou Adailton Melo, presidente do grupo.

Grupo Raízes da Gameleira -Foto: Gilsimara Cardoso

O grupo Raízes da Gameleira também brilhou nas comemorações do 2 de Julho com uma apresentação que destacou a força da presença feminina e o envolvimento das novas gerações. As vozes marcantes das mulheres emocionaram o público, enquanto as crianças, ativas na percussão, mostraram que a tradição do samba de roda segue pulsando com vitalidade. Essa integração entre mulheres e crianças reforça o papel transformador da cultura popular e evidencia como o samba de roda é passado com orgulho de geração em geração, garantindo continuidade e renovação.

Grupo Afoxé Omo Omin na Festa de 2 de Julho em Vera Cruz – Foto: Gilsimara Cardoso

Outro destaque da festa foi a apresentação do grupo Afoxé Omo Omin, fundado há dois anos por integrantes do Presente da Comunidade da Conceição. Com forte conexão com a ancestralidade e a espiritualidade, o grupo levou ao público uma performance carregada de simbolismo e emoção.

Foto: Afonso Santana

O nome Omo Omim significa ‘Filhos das Águas’. É uma honra participar dessa festa pelo segundo ano consecutivo, a convite do grupo de Samba de Roda 2 de Julho. Ver esse espaço aberto para o afoxé é motivo de muito orgulho para nós”, afirmou Luan Marques, integrante do grupo.

Foto: Gilsimara Cardoso

Durante a apresentação, o público se emocionou com músicas tradicionais como Quixabeira, de Manezinho de Isaías, cantada em coro pelos sambistas e pela plateia.

Foto: Gilsimara Cardoso

A participação do grupo de samba de roda Nova Revelação nesta festa reafirmou a importância de manter vivas as tradições que atravessam gerações. Com uma apresentação contagiante, o grupo trouxe também alegria, ritmo e ancestralidade para o evento, mostrando como o samba de roda continua sendo uma poderosa expressão da identidade baiana. Essa presença fortalece a conexão entre passado e presente, e destaca o papel fundamental da festa como espaço de visibilidade para os grupos culturais locais.

O mestre Luiz Preto na Festa de 2 de Julho em Vera Cruz – Foto: Gilsimara Cardoso

E como não podia faltar, a capoeira marcou presença, o mestre Luiz Preto, que carrega no nome de batismo, a inspiração dos pais dele no Rei do Baião, Luiz Gonzaga, é referência na comunidade e atua com a capoeira desde 1991. Luiz reforçou a importância da integração entre as manifestações culturais da região, “a capoeira representa a minha geração. E ela sempre caminhou junto com o samba de roda e o afoxé. Todos nós estamos representando o passado e o nosso Dois de Julho. Isso é cultura viva.” explica sorridente mestre Luiz Preto.

Nazareth Reales e família com o grupo Afoxé Omo Omin – Foto: Gilsimara Cardoso

Além dos moradores, o evento também atraiu turista de outras partes do Brasil. A ciclista colombiana Nazareth Reales, que viaja pelo Brasil com a família, se emocionou com a celebração, “eu gostei muito das festas porque me parecem a forma mais valiosa de conhecer uma cultura e de preservá-la. Eu amei, me emocionei, tanto que chorei ao ver mulheres idosas, crianças e jovens participando juntos. Isso é muito valioso, porque mostra que a cultura segue viva entre as novas gerações.” Relata Nazareth.

Letícia Schaviuk na Festa de 2 de Julho em Vera Cruz – Foto: Gilsimara Cardoso

Para quem assistia e imaginava que iria ficar somente na plateia, se enganou. As sambadeiras convidavam os admiradores para sambar no meio da roda, o que proporcionou a vivência, quem não sabia sambar aprendeu ao vivo, no compasso da alegria e dos tambores do Samba de Roda 2 de Julho. Letícia Schaviuk, turista de Santos (SP), resumiu a experiência em poucas palavras, “está incrível, maravilhosa, cheia de cultura, de música, de gente bonita e de coisa boa!”

Foto: Gilsimara Cardoso

E como não podia faltar numa verdadeira festa de 2 de Julho, a tradicional feijoada preparada pelas mãos talentosas de Dídima Andrade e Sandra Alcântara, uma das fundadoras do Samba de Roda 2 de Julho. A feijoada da Comunidade de Conceição foi mais do que uma refeição, foi um ato de celebração, partilha e memória, que dá aquela energia especial para o povo dançar, cantar e celebrar até o fim. É o segredo da força da festa, aquele abraço quente no prato que reúne todos em volta da mesa com alegria e gratidão.

Apresentação de Capoeira na Festa 2 de Julho em Vera Cruz – Foto: Afonso Santana

A festa de 2 de Julho em Conceição reafirma o poder da cultura popular como ferramenta de resistência, pertencimento e continuidade histórica. Em cada canto, toque e passo de dança, a comunidade mostra que a Independência da Bahia segue sendo celebrada com força, beleza e identidade e que a cultura não é extraordinária.

4 Responses

  1. Vale ressaltar que toda esta festa além de comemorar, tem também como proposta a busca pela preservação dos nossos saberes musicais, das atitudes e rotina do nosso povo(maioria pescadores e marisqueiras) afim de que com o passar do tempo as músicas ,os fazeres, os dizeres e o próprio jeito de agregar pessoas(inclusive crianças e idosos) contribuam para a permanência e preservação das nossas raízes.
    Parabéns a todos ,diretoria, sambadores, comunidade de Conceição, colaboradores, enfim todos que nos prestigiaram vivenciando e sambando e conosco.
    Gratos também à Prefeitura de Vera Cruz

  2. Parabéns samba de roda 2 de Julho.
    Magnifica apresentação, celebrar a sua fundação que ñ por acaso caiu em dia marcante em que nosso povo se livrou em defitivo dos dominios português.
    Dia de luta e de celebrar a força e a cultura do nosso povo.
    Ñ deixemos a nossa Cultura se perder. Parabéns

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