Símbolo da cultura popular, Maria José Lima deixa um legado que seguirá inspirando Tairu.

Por Gilsimara Cardoso

Foto: Gilsimara Cardoso

A comunidade de Tairu se mobilizou para a despedida de Maria José Lima, a matriarca da família Lima, conhecida por muitos como Dona Zezé, mesmo enfrentando desafios físicos esteve presente até o final da vida dela nos festejos culturais e religiosos de Tairu.

O relógio marcava 15h41 quando, na própria casa, cercada pelo amor de filhos, Dona Maria José partiu, aos 93 anos. Mulher de fibra, mãe de 15 filhos biológicos e 3 de criação, guardiã de tradições e referência incontestável da cultura local, ela deixou não apenas uma família imensa, mas também uma comunidade inteira órfã da presença dela.

Foto: Gilsimara Cardoso

Na manhã deste domingo, 1º de junho, as ruas de Tairu se encheram de gente, flores, lágrimas e cantos. Cerca de 700 pessoas acompanharam o cortejo até o cemitério de Aratuba. Não era apenas uma despedida; era uma celebração de vida, uma reverência ao legado construído com as mãos calejadas e o coração generoso de Dona Maria José.

Maria José Lima, aos 93 anos, Festa de São Gonçalo – Foto: Gilsimara Cardoso

A casa dela, sempre aberta, foi templo e abrigo. Ali se faziam e refaziam laços, se cozinhava com fé e se dançava com devoção. Dona Maria José foi uma das grandes responsáveis por manter vivas as tradições da Festa de São Gonçalo e da Festa de Santo Antônio, manifestações que pulsavam no sangue dela e se espalhavam por Tairu.

Maria José Lima – Foto: Gilsimara Cardoso

Entre os muitos depoimentos emocionados, o da filha dela, Eliana Lima, que esteve ao lado da mãe até os últimos instantes, comprovadamente não há uma fotografia de dona Maria José que Eliana não esteja.

E assim ela continuou, durante o cortejo, enquanto observava o grande número de pessoas caminhando, um percurso de 3km até o cemitério de Aratuba. Eliana confirmou em poucas palavras, “minha mãe é muita querida, ela é muito conhecida aqui.

Maria Romilda, amiga da família que viajou de Salvador para a despedida, acrescentou, ainda admirada pela história de vida de Dona Maria José. “Uma mulher guerreira, batalhadora, um exemplo. Ela fica na nossa história.” Ressalta Romilda.

Joelma Conceição no sepultamento de Maria José Lima – Foto: Gilsimara Cardoso

E para quem estava mais perto, a vizinha e amiga de longa data, Joelma Conceição, revelou a intimidade e o carinho que as uniam, “eu tenho ela como se fosse uma mãe. Ela fazia azeite de dendê na casa dela… Ela sempre falava o meu nome. cadê Joelma, só tenho boas lembranças”, relata Joelma.

Maria José Lima, aos 93 anos, Festa de São Gonçalo – Foto: Gilsimara Cardoso

Júlia Lima, sempre esteve ao lado de Dona Maria José, ela passou a manhã do domingo durante o velório, rezando pela amiga de longas datas, não participou do cortejo, por problemas de saúde. “A gente não pode ultrapassar nossos limites né, eu rezei o terço hoje lá, fiquei até agora preciso me acalmar. ” Justifica Júlia.

Foto: Gilsimara Cardoso

Mas não foram apenas familiares e amigos próximos que sentiram o peso da perda. Para a comunidade, a partida de Dona Maria José significa o fechamento de um ciclo, mas também a responsabilidade de manter viva a chama que ela acendeu.

Matheus Lima com Dona Maria José na Festa Presente de Matheus, fevereiro 2025- Foto: Gilsimara Cardoso

Matheus Lima, morador de Tairu, cresceu admirando Maria José, ela sempre o apoiou nas manifestações religiosas e culturais, ele com empatia à dinâmica da vida, sintetizou esse sentimento coletivo, “a única certeza da vida é a morte. Mas a gente vai dar continuidade. O legado dela é importante demais para Tairu.” Explica Matheus.

Maria José Lima, aos 93 anos, Festa de São Gonçalo – Foto: Oni Sampaio

E assim será. Entre rezas, cantos e passos lentos pelo caminho de Tairu até Aratuba, a multidão que a acompanhou selou um compromisso silencioso, o de manter vivas as tradições, o acolhimento, a força e a fé que Dona Maria José ensinou.

A história não termina; ela se transforma em memória, em cultura, em resistência. Dona Maria José segue presente, em cada canto, em cada festa, em cada panela de dendê preparada com amor.

Hoje, Tairu chora, mas também agradece.

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