Condição de saúde que afeta uma em cada 10 mulheres brasileiras em idade reprodutiva
Por Gilsimara Cardoso

Foto: Freepik
Cólicas menstruais intensas, dores pélvicas fora do período menstrual e/ou durante a relação sexual e até mesmo a infertilidade. Estes são alguns dos principais sintomas da endometriose, condição de saúde que afeta uma em cada 10 mulheres brasileiras em idade reprodutiva, segundo dados do Ministério da Saúde (MS).
Embora tão comum, muitas mulheres sofrem com a demora no diagnóstico, que em média costuma acontecer dez anos desde a apresentação dos primeiros sintomas. o médico Dr. Jorge Valente, pós-graduado em medicina ortomolecular , ginecologista especializado em saúde metabólica e longevidade, alerta para as consequências do diagnóstico tardio. “Este período de atraso é mais ou menos o tempo entre o início dos sintomas e o aparecimento das deformidades anatômicas que são identificadas nos exames diagnósticos de ressonância e ultrassonografia com preparo intestinal para pesquisa de endometriose profunda”.

Dr. Jorge Valente – Foto: Acervo pessoal
A demora, diz o médico, ocorre muitas vezes pela falta de informação, demora da paciente em procurar ajuda médica e a existência de casos assintomáticos.
A jornalista Patrícia Roma faz tratamento para engravidar, por não ter os sintomas mais comuns, somente aos 35 anos ela descobriu que tinha endometriose, todo o ciclo menstrual dela era regular com cólicas leves, “o meu diagnóstico foi tardio, sempre senti dor durante a relação sexual, depois dos 35 anos fui investigar o porquê eu não engravidava, durante a ultrassom a médica me diagnosticou, e disse que eu não iria consegui engravidar por vias normais, eu chorei muito.”
Um fator que contribui para o diagnóstico tardio é a relativização, por parte de alguns profissionais, sobre as queixas das mulheres, normalizando a cólica menstrual e prescrevendo o uso de contraceptivos que vão promover o alívio temporário da dor e não a causa do problema. “É importante salientar que a endometriose é uma doença inflamatória com características autoimunes onde o estilo de vida é um componente importante do tratamento”, diz o ginecologista.
Segundo ele, outro fator prejudicial é o fato dos exames de imagem como ultrassom e ressonância magnética não serem realizados por profissionais treinados e acostumados a identificar o problema principalmente nas fases iniciais e em mulheres assintomáticas.

Patrícia Roma – Foto: Acervo pessoal
Depois do diagnóstico, Patrícia fez uma ressonância e descobriu que devido ao diagnóstico tardio a doença se agravou, “na ressonância descobri que já tinha endometriose profunda, quando é profunda está em várias lugares do corpo, na via uterina, no intestino…” desabafa Patrícia.
Defensor da prática de uma abordagem terapêutica que visa o cuidado integral da saúde feminina, com estímulo da adoção de um estilo de vida que inclua exercícios físicos regulares e dieta anti-inflamatória, o médico ressalta que, ao longo dos anos, o tratamento da endometriose tem evoluído. “Hoje diversas terapias inovadoras têm sido investigadas para melhorar os resultados e a qualidade de vida das pacientes. Entre estes novos protocolos estão as terapias hormonais, imunológicas e com o uso de canabidiol, além de abordagens integrativas que combinam terapias hormonais com técnicas não hormonais ou adjuvantes, como o uso de acupuntura, por exemplo”.

Foto Ilustrativa
Patrícia faz o tratamento há 06 anos, ainda não conseguiu engravidar, ela mudou a alimentação e está se tornando vegana, “nada industrializado, tirei o glúten, o leite, o açúcar para desinflamar o corpo, agora além da alimentação estou indo para uma vida mais natural, não uso desodorante, não uso perfume no corpo, meu creme dental é vegano, hoje eu consigo não tomar medicamento para aliviar a dor, porque a minha dieta amenizou. ” Conclui Patrícia.
O ginecologista alerta que a escolha do tratamento ideal para reduzir os impactos da endometriose na saúde e qualidade de vida das mulheres deverá ser feita por um profissional especializado, de maneira individualizada, de acordo com os sintomas apresentados por cada uma delas.
“É preciso destacar que nenhuma dor deve ser considerada normal e que anticoncepcional não é tratamento e a falta de investigação pode atrasar o processo terapêutico”, alerta o especialista.