A Caravana é uma ação da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e do Inema para salvar a vida dos caranguejos no período da desova.
Por Gilsimara Cardoso

Gaiamum – macho Foto: Fabio Rage
Na última segunda, 17, a Caravana do Defeso esteve em Mar Grande para defender os caranguejos no período da andada. Um ciclo de vida que acompanha as fases da lua nova, que será nos dias 27/02 a 04/03 e no dia 29/03 a 03/04. Nesse período as fêmeas vão reproduzir no mar, é proibida a captura e a comercialização.

Caravana do Defeso 2025, em Vera Cruz Foto: Gilsimara Cardoso
A Caravana é formada por agentes ambientais da Sema – Secretaria Estadual do Meio Ambiente e do Inema – Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos foi recebida pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Vera Cruz.

Caravana do Defeso em Vera Cruz – Foto: Marcelo / ASCOM
Como uma terapia em grupo, em um círculo, 27 pessoas, marisqueiras, pescadores, biólogos, fotógrafos, jornalistas, segurança, empresários apresentaram-se e dialogaram por 4h sobre o meio ambiente.
A proposta era ouvir para conhecer, informar para cobrar e compartilhar para salvar.

Caravana do Defeso em Vera Cruz – Foto: Marcelo / ASCOM
O objetivo da Caravana não é autuar, a princípio o mais importante é a conscientização para levar a informação adiante, a assessora técnica na diretoria de educação ambiental para sustentabilidade da Sema, Stéfane Mendes foi objetiva sobre a principal pretensão da caravana, “a ideia é sensibilizar esses diferentes atores que lidam com a zona costeira e disseminar a informação da Portaria N.22/2024 do MPA e MMA que falam sobre o período de Defeso, especialmente do caranguejo. “

Stéfane Mendes, assessora técnica na diretoria de educação ambiental para sustentabilidade da Sema, na Caravana do Defeso 2025
Um dos assuntos abordados, foi a captura dos caranguejos em Vera Cruz, por aqui o gaiamum – macho e a pata-choca a fêmea são considerados “nativos”, por ser encontrado com facilidade em alguns locais da Ilha. No entanto, esse ano já não é tão comum como antigamente.

Campanha da Caravana do Defeso 2025 – Conscientização – Foto: Ilustrativa
O gaiamum está na época da desova, mesmo sabendo disso uma minoria de moradores vai para praia a noite capturar a fêmea carregada de ovos, como já dizia o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, “ Tarvez por ignorança ou mardade das pió “, quem deveria proteger não está tendo a sabedoria de preservar. A morte de uma pata-choca significa o sacrifício de milhares de gaiamuns.

Gaiamum fêmea – Pata-choca- indo desovar Foto: Acervo pessoal
Cada pata-choca carrega em média 20 mil filhotes, a Oceanógrafa Alice Reis Explicou que o gaiamum não pode ser comercializado e que a própria comunidade pode fiscalizar, denunciando o infrator no número 0800-071-1400. “ Ele está na lista de espécies em extinção, a pesca é proibida durante todo o ano, em caso de captura desse animal para comercialização, o valor da multa para quem capturar o animal para comercialização, para cada unidade o valor é de 5 mil reais. ”
Quando se trata de equilíbrio no meio ambiente a função do gaiamum é especial e crucial para assegurar a continuidade de outras espécies, além de garantir a sobrevivência dos peixes que pescamos aqui em Vera Cruz. “Ocorre na região do manguezal, elas cavam tocas, e essas tocas vão servir de abrigo para outros animais, o caranguejo atua na reciclagem de nutrientes levando a matéria orgânica que está na superfície para o fundo e alimentando dessa forma os manguezais, eles também servem de alimentos para os peixes.”
Canavieiras é a única cidade na Bahia em que a pesca e a captura do gaiamum é liberada, por existir um plano de gestão local.

Simone Guimarães na Caravana do Defeso 2025 – Foto: Gilsimara Cardoso
A empresária Simone Guimarães compreendeu a importância do cidadão ser um agente que cuida e fiscaliza o meio ambiente principalmente por Vera Cruz ser uma cidade turística e com um bioma diverso, “nós devemos preservar e ter a consciência ambiental sustentável, de maneira que a gente não polua, e se vier ao nosso conhecimento de pessoas que estejam degradando o meio ambiente e utilizando no período do Defeso esses caranguejos para comercializar, devemos cumprir o nosso papel de cidadão e denunciar.” Afirma Simone.
Dessa forma, a informação chegou para o grupo ali presente. Os agentes também apresentaram os fatores mais comuns que impossibilitam a continuidade de diversas espécies, como por exemplo: A poluição, a pesca fantasma, as mudanças climáticas, a bioinvasão e a pesca e coleta no Defeso.
As mudanças climáticas pode ser a mais grave de todas porque já estão sendo percebidas pela marisqueira Elenita “ por causa do calor, tem alguns mariscos que não encontramos mais no mangue”, comenta Elenita durante a reunião. Ela muito preocupada com a situação ambiental do mangue pergunta para os agentes da Caravana o que será do futuro dela se não houver mais os mariscos, “agora eu quero saber de vocês como vai ser, porque eu não quero trabalhar em outro lugar? “ Uma resposta que nem mesmo quem busca soluções baseadas em pesquisas científicas não conseguiu responder.

Adriano Evangelista com as agentes ambientais da Caravana do Defeso – Foto: Gilsimara Cardoso
A ´continuidade da pesca em Vera Cruz é importantíssima, faz parte da rotina e da história dos nativos, o professor de história Adriano Evangelista participou da conversa atento principalmente com questões voltadas para educação ambiental, e para o futuro da pesca. Ele é filho de marisqueira, pertencente a uma família de oito irmãos, Adriano destacou a importância da pesca para ele e a mãe dele “eu sou Pedagogo, pós-graduado em história, estou cursando mestrado pela UFBA, a minha mãe é responsável por eu estar aqui hoje, eu tenho uma mãe guerreira que através da pesca formou 8 filhos, 4 policiais militares e 4 professores. “ Adriano é filho da marisqueira Rosa Maria Lima Evangelista.

Peixe leão, grande ameaça para o ecossistema do litoral brasileiro – Foto: Domínio público
A bioinvasão também foi uma pauta ressaltada pela oceanógrafa Alice Reis, “ existe uma ameaça no nosso litoral, o peixe leão é uma espécie que não possui predador natural. ”
O peixe em questão é altamente venenoso, ele se multiplica com facilidade foi capturado pela equipe de mergulho da Sema em Morro de São Paulo, litoral baiano, no último dia 14. É uma espécie exótica originária do Indo-Pacífico que pode crescer até 47 cm e viver até 15 anos. Ele é conhecido por seus hábitos noturnos e por se abrigar em cavernas ou fendas durante o dia. Além disso, o peixe-leão é um predador voraz, capaz de consumir até 20 peixes em 30 minutos, o que o torna uma ameaça significativa para outras espécies marinhas. Alice orienta para os cuidados com esse peixe, “se acaso vim na rede, tirem sem tocar com as mãos nele. E não o devolva para o mar, em caso de contato com a pele, banhar o local com água quente, em seguida busque atendimento médico, porque o veneno dele em algumas pessoas pode causar um choque anafilático, a pessoa pode vir a óbito “
Resíduos sólidos x fonte de renda

Silene Costa na Caravana do Defeso 2025 – Foto: Gilsimara Cardoso
A poluição é um dos fatores responsáveis pelo desequilíbrio ambiental, o descarte de resíduos sólidos provoca a morte de diferentes animais, a pesca no período de Defeso também é outro fator de grande impacto, pensando nisso Silene Costa, diretora de fiscalização e licenciamento ambiental de Vera Cruz, está desenvolvendo um projeto de reutilização de garrafas de vidro para a produção de copos, com o propósito de resolver o problema dos resíduos e criar uma renda extra para pescadores e marisqueiras no período do Defeso, “ inicialmente nós vamos ter um projeto bonito que é ensinar a reutilizar as garrafas de vidro, para transformar em copos, em jarros, em obras de artes. As garrafas de vidro que é um grande problema na nossa cidade, será uma fonte de renda, o plano B, aguardem. ” Silene explica com um sorriso no rosto.

Silene Costa com os agentes da Caravana do Defeso 2025 – Foto: Gilsimara Cardoso
A Caravana do Defeso deixou resultados significativos, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Vera Cruz pretende dá continuidade, Silene apresentou as próximas ações, “ novas mobilizações em todas as frentes, tanto para as marisqueiras, quanto para os pescadores a gente pretende estender o que foi feito, seremos multiplicadores em cada colônia de pescador, vamos fazer minicaravanas e vamos até eles, vamos está nas colônias, porque antes da fiscalização o mais importante é a conscientização.

Elenita e Flávia Conceiçaõ na Caravana do Defeso Foto: Gilsimara Cardoso
A filha de Elenita Flávia Conceição mora na comunidade do Baiacu, antes de ir embora manifestou gratidão pelo aprendizado nesta manhã de segunda, sorridente e satisfeita, desejou o próximo encontro. “Eles vieram com informações que a gente não tinha em mente, que eles venham mais vezes para orientar a gente. ”