As iniciativas civil, pública e privada se uniram para desenvolver estratégias ambientais de curto prazo na Ilha de Itaparica

Por Gilsimara Cardoso

Etapa Municipal – 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, da esquerda para direita, professora, estudante, oceanógrafo e bióloga- Foto: Gilsimara Cardoso

Nesta sexta-feira, 24, o município de Vera Cruz sediou a 1ª Conferência Municipal do Meio Ambiente de Vera Cruz, que faz parte da primeira etapa municipal da 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, cujo tema é “Emergência Climática, O Desafio da Transformação Ecológica. ”

Uma ação conjunta dos setores público e privado com a comunidade para desenvolver estratégias ambientais de curto prazo que diminuam a emissão de poluentes no meio ambiente.

Um problema que vem crescendo há anos, por ser um lugar turístico Vera Cruz recebe na alta temporada, de dezembro a março, um fluxo de 10 mil pessoas por mês, de acordo com o Censo Demográfico do IBGE de 2022 a população atual de Vera Cruz tem 42.577 habitantes, o município teve um crescimento populacional de 13,32% em 12 anos.

1ª Conferência Municipal do Meio Ambiente em Vera Cruz – Foto: Gilsimara Cardoso

O secretário de cultura e turismo André Reis, preocupado com a preservação ambiental, explica que em épocas festivas esse número quadruplica “em datas como Reveillon e Carnaval nossa população varia entre 160 mil a 200 mil pessoas, aproximadamente. ”

Assim como dá um boom na economia local, também sobrecarrega a gestão de resíduos do município, que já sofre problemas estruturais atendendo apenas a população local. A cidade de Vera Cruz ocupa 87% do território da Ilha de Itaparica, no entanto, ainda não possui aterros sanitários.

Existe a Lei Federal nº 12.305/2010 que regulamenta a gestão nacional de resíduos sólidos, a legislação foi responsável pela configuração dos resíduos e rejeitos, esclarecendo quais insumos devem ser direcionados para o aterro sanitário após a coleta do lixo domiciliar, esse lei serve de apoio para possíveis investimentos na coleta lixo, principalmente na coleta seletiva.

 Sem aterro sanitário, o lixo está exposto na natureza, impactando o solo com chorume e emitindo gases como o metano, o qual tem um poder de poluição 80% maior que o gás carbônico.

A população pode contribuir tanto para o aumento quanto para redução de resíduos, questões que envolvem da reeducação alimentar à educação ambiental. O ideal é descartar o mínimo, separar o lixo orgânico e usá-lo como adubo na terra, por exemplo, pode ser o passo inicial.

Comprenda a pirâmide:

Pirâmide invertida – Prevenção, Redução, Reutilização, Reciclagem, Recuperação, Disposição final adequada- Foto: ilustrativa

Quem por aqui está sentindo muito calor?

Uma preocupação que trouxe a bióloga Margareth Martinez para a Conferência, ela elaborou juntamente com a comunidade estratégias que minimizem o problema climático nacional “ Todo mundo pensando junto, a princípio criamos um plano nacional, mas com um gancho para resolver o problema local. “

De vermelho Margareth Martinez elaborando propostas na ponta da mesa está o engenheiro Fábio Schuler – Foto: Gilsimara Cardoso

O engenheiro Fábio Schuler também participou da mitigação climática de Vera Cruz, contribuindo com conhecimentos técnicos sobre a criação de aterros sanitários que venham suprir a demanda de produção de resíduos sólidos reduzindo ao máximo o efeito de gases no meio ambiente, “agir rápido, utilizar gases como o metano para a produção de energia é uma boa opção.”

Rodolfo Giordano, oceanógrafo, elaborando propostas para a emergência climática – Foto: Gilsimara Cardoso

Para o oceanógrafo Rodolfo Giordano contribuir com conhecimentos e compartilhar informações com a população é importantíssimo e prazeroso “eu achei bem legal, um grupo completamente diverso, pessoas com formações profissionais diferentes, as  quais levantaram os problemas; tinha uma professora de português, um engenheiro, duas biólogas, uma corretora de imóveis e um senhor que trabalhava com reciclagem, reunimos as informações e desenvolvemos ideias, para mim a maior satisfação foi a realização própria de saber que pude ajudar o lugar onde vivo, que estou ajudando o país, o nosso planeta.“ Rodolfo foi eleito nesta primeira Conferência Municipal para representar a iniciativa privada de Vera Cruz na 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente.

Silene Costa na 1ª Conferência Municipal do Meio Ambiente – Foto: Gilsimara Cardoso

Uma responsabilidade compartilhada também com a protagonista Silene Costa, diretora de fiscalização e licenciamento ambiental de Vera Cruz, além de fazer parte da comissão organizadora da conferência municipal ela irá representar o setor público na conferência nacional. Uma das preocupações de Silene é a justiça climática sob os efeitos da mudança climática ”talvez aquele que esteja utilizando o ar-condicionado não perceba a mudança, mas a marisqueira, os pescadores que estão expostos ao sol já estão percebendo, tem muita criança que mora no contra costa sofrendo com essa variação climática, lá não tem tanto vento quanto aqui, … nessa conferência a gente traz os autores principais.”

Em meio a tantos problemas ecológicos, o problema social é preocupante, principalmente para quem precisa do rio e do mar para sobreviver, dona Joselita Maria é marisqueira, vive na comunidade Porto Sobrado, ela emocionou os participantes com um depoimento surpreendente, ela como coadjuvante da mãe natureza pediu ajuda ” eu vim participar disso aqui porque eu preciso de socorro, o mar precisa de socorro, o rio precisa de socorro, porque se nós cuidarmos dos nossos mares, dos nossos rios, da nossa vegetação, estamos cuidando da saúde do povo…”

Joselita Maria, marisqueira, na 1ª Conferência Municipal do Meio Ambiente – Foto: Gilsimara Cardoso

Socorro este que levou a professora da rede pública Leidnalva Cruz a participar do grupo transformação ecológica, contribuindo com humildade para o futuro da humanidade “ toda transformação seja ela qual for, seja de que nível for, ela precisa começar na escola.  Se a gente não começa lá com essa base, não tem como a gente sensibilizar. As crianças seguem os mestres, a mudança ocorrerá através da educação. “

Leidnalva Cruz professora da comunidade de Tairu na 1ª Conferência Municipal do Meio Ambiente – Foto: Gilsimara Cardoso

A conferência de Vera Cruz chegou em boa hora, visto que , a sondagem para a construção da ponte que liga a ilha a Salvador está em andamento. A especulação imobiliária não vai acontecer, porque já começou. 

Por isso, a emergência da prevenção e criação de áreas de preservação do meio ambiente. 

Deusdélia Andrade moradora da comunidade da Penha na 1ª Conferência Municipal do Meio Ambiente – Foto: Gilsimara Cardoso

Para quem já trabalha nesta proteção, existe um outro agravante, a técnica ambiental Deusdélia Andrade chamou atençao para pedaços de redes encontradas com frequência no Recife das Pinaunas, ” a pesca fantasma é uma das pescas pedratórias, em que o pescador perde a rede, ou as vezes deixa porque tá velha e aí essa rede fica rolando no mar até chegar no recife e se prender nos corais. ” Outro problema citado por Deusdélia é o da pata-choca que enfrenta dificuldades para chegar ao mar, devido as construções irregulares de grandes loteamentos.

Equipe que representará Vera Cruz na 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente – Foto: Gilsimara Cardoso

Governança e educação ambiental, a justiça climática, a mitigação, a transformação ecológica, preparação e adaptação para desastres foram eixos trazidos para a conferência capazes de mobilizar os setores público e privado a terem uma parceria com a comunidade. A 1ª Conferência Municipal do Meio Ambiente de Vera Cruz fez de um dia quente, um dia fresco e agradável, cheio de empatia para com aquela que garante a nossa respiração e acima de tudo a nossa sobrevivência.

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