O início da pesca em Tairu mobilizou a comunidade para a puxada de rede

Por Gilsimara Cardoso

Colocação da rede no barco para a segunda jogada de rede. Foto: Gilsimara Cardoso

Colocação da rede no barco para a segunda jogada de rede. Foto: Gilsimara Cardoso

A pescaria em Tairu começou bem cedinho, às 5h da manhã, neste último domingo de outubro e irá até março de 2025. Período em que o mar está manso, calmo, sem grandes tempestades. Os pescadores mais astutos observam, a maré e os cardumes.

Com a imagem de São Gonçalo na parede principal da casa dos pescadores, em meio as redes, o pescador Carlos Alberto Lima, conhecido como Calú, hoje aos 71 anos, é um dos pescadores mais experientes, começou a pescar jovem, aos 16 anos. Ele irá decidi o destino da pescaria, “a gente observa daqui mesmo se tem o peixe na água, porque eles pulam, avistamos o cardume daqui”.  A olho nú, quem não é pescador, vê apenas o horizonte na cor azul piscina do mar de Tairu.

Orla de Tairu, comunidade se preparando para pescaria – Foto: Gilsimara Cardoso

Cerca de 15 pescadores abrem a rede e a levam para o barco, enquanto isso, mulheres, crianças e adolescentes se ajeitam na areia junto com as panelas, baldes, sacolas e mosquiteiros para aguardar o início da puxada de rede.

A marisqueira Lúcia não veio sozinha, trouxe a filha Camila Barbosa para ajudar. Camila vem com a mãe desde criança, “ eu venho pescar todo ano, desde que eu era pequena, a pescaria aqui tem muitos anos, os nativos daqui pescam muito. “

O barco de pesca já está no mar, há cerca de 15m da praia, os pescadores navegam em um ângulo de 180°, com relação a praia. Rede na água, inicia-se a puxada.

Puxada de rede, pescaria em Tairu – Foto: Gilsimara Cardoso

Todos puxam a corda, com espessura grossa, pacientemente. Cerca de 10 passos para traz, e volta para o início, novamente.

Lúcia e Camila entram na água com o mosqueteiro. A rede é puxada nos dois lados simultaneamente, equilibrada pelo mesmo número de braços. A experiência dos mais astutos nesse momento é crucial para não perder os peixes. Calú grita para o lado esquerdo puxar menos, do que o lado direito, “ calma, calma, pessoal! ” outros pescadores gritam o nome de Lúcia. “ Solta a rede Lúcia! “.

Puxada de rede, Orla de Tairu, Vera Cruz-Bahia – Foto: Gilsimara Cardoso

Lúcia segura o mosquiteiro, ao mesmo tempo que apoia a rede dos pescadores para os peixes não saírem, com a água quase entrando na boca. Olhando de longe, lá está Lúcia e Camila tentando segurar os peixes menores. Uma batalha diária enfrentada pelas mulheres marisqueiras de Tairu, que têm na pesca a principal fonte de renda.

A luta da pititinga para sobreviver e a batalha dos moradores para não perder a pesca – Foto: Gilsimara Cardoso

Lúcia conta que a meta dela é pegar mais pititinga “ eu tenho uma meta aqui, limpar 100kg de pititinga para vender”, a venda de pititinga é feita na praia mesmo, para comerciantes da Orla, o kg da pititinga tratada custa R$15. Peixe muito comum na gastronomia de Tairu, um excelente petisco para acompanhar uma bebida gelada.

Assim que a rede está na areia os peixes presos na rede são despejados no tacho ou em um barco menor, para ser dividido. 50% é do dono da rede os outros 50% é divido entre os puxadores de rede. Mesmo que todos tenham pegado os peixes que caíram na praia, ainda participarão desta divisão.

Divisão da pesca com os puxadores de rede, em Tairu. – Foto: Gilsimara Cardoso

Com os peixes nos baldes, Lúcia senta na areia para tratar a pititinga, a garrafa de café a acompanha, Camila Barbosa senta próximo à mae e fazem juntas a limpeza dos peixes.

A pititinga por ser pequena, basta apenas retirar a cabeça e com um golpe rápido, o peixe já está tratado. Aparentemente é fácil, mas requer tempo e coragm, porque a quantidade é grande, parece não ter fim.

A habilidade de Lúcia é gigante, ela tira a cabeça de cerca de 25 pititingas por minuto, prática herdada de outra geração, Lúcia segue uma regra e uma tradição passada de mãe para filha.

Lúcia esticando o mosqueteiro para o início da pesca, embaixo do sombreiro, Camila está sentada. – Foto: Gilsimara Cardoso

A tarefa de tratar os peixes, aqui em Tairu, aparentemente pertence ao gênero feminino e a de pescar ao gênero masculino, no entanto, Lúcia faz os dois, pesca e trata o peixe. Ação que demonstra o quanto a mulher pode fazer o que escolher e onde quiser.

Fique por dentro da pesca, assista o vídeo.

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