A ostra e o sururu são as principais fontes de renda da marisqueira Roquelina dos Santos

Por Gilsimara Cardoso

Roquelina dos Santos mariscando no mangue de Matarandiba – Foto: Gilsimara Cardoso

Mariscar nos mangues de Vera Cruz, tem sido um serviço importante para microempreendedoras nativas da ilha. Ainda que seja informal, é a principal fonte de renda de muitas famílias. Uma tradição passada de geração em geração.

A marisqueira Roquelina dos Santos, popularmente conhecida como Raquel, aprendeu desde criança, com a avó e com a mãe, a mariscar. Hoje com 51 anos de idade, viaja de Tairu a Matarandiba toda semana, para mariscar no mangue.

A equipe do Jornal Atualize pôde acompanhar por dois dias a rotina dela.

 Raquel construiu um barraco no meio da reserva de Matarandiba, o local não tem energia, o terreno foi herança dos pais dela.  “Aqui não pode usar bloco na construção, também não temos energia elétrica, por isso, construímos de madeira e lona, aqui é o nosso Matangi “

Roquelina dos Santos retirando sururu no mangue- Foto: Gilsimara Cardoso

Para quem está precisando fugir da tecnologia, é o lugar perfeito. Nos surpreendemos com o conforto da barraca. Tudo feito com varas, lonas e tecido, a cama foi construída com ripas de madeira, muito confortável.  A barraca dela tem em torno de 50m quadrados, possui dois quartos, um deles, é suíte, uma sala e uma cozinha.

Tudo dividido e muito organizado, a limpeza é uma preocupação importante para dona Raquel. “ Aqui a água doce é difícil, a gente pega água da chuva, coa com tela, depois com dois lençóis, aí eu boto cloro, fica transparente. “Para beber, dona Raquel filtra a água.

Assim que chegamos, por volta das 13h , ela já foi armar as “gaiolas”, armadilhas utilizadas para capturar siris. São armadas com a maré baixa, para serem retiradas na manhã seguinte, quando a maré baixar novamente.

Processo em que o peixe deixa de ser a caça e se torna a isca, Raquel encheu o pequeno orifício na parte superior da gaiola com peixinhos. “Aqui tem que encher todo e fechar todas as partes para o siri não fugir.”

Colocação das iscas nas gaiolas para capturar os siris, Roquelina Santos e Ananias Reis- Foto: Gilsimara Cardoso

Armadilha pronta, fomos mariscar, foi possível pegar alguns sururus e poucas ostras, pois a maré já começou a subir.

Serviço árduo e perigoso, porque o sururu se enterra nas raízes das árvores do mangue, praticamente se camuflam no meio da lama. Graças a experiência de Raquel, tivemos um pouco de sucesso, conseguimos pegar alguns sururus.

O facão utilizado foi adaptado para facilitar o trabalho, no entanto, para nós, neste primeiro contato com o mangue, não foi fácil pegar o primeiro sururu.

Roquelina dos Santos retirando ostras no mangue de Matarandiba – Foto: Gilsimara Cardoso

A cada passo, a lama subia até o joelho, os pés protegidos por meias, não nos livrou 100% do corte das ostras, presas nas raízes submersas. Um verdadeiro campo minado, em que, cada passo pode ser também uma armadilha da própria natureza.

Sapato feito de meias, por Roquelina dos Santos, para entrar no mangue – Foto: Gilsimara Cardoso

Voltamos para o barraco, o banho foi morno, Raquel esquentou a água no fogão de lenha.

A noite logo chegou de mansinho, a fogueira foi acesa na boquinha da noite, por volta das 17h30, os passarinhos se refugiaram nos topos das árvores mais altas. O silêncio ecoou juntamente com a luz do dia. A qual foi substituída, ainda que por pouco tempo, pela única luz vinda de uma lâmpada no meio do telhado.

Noite no Matangi – Mangue de Matarandiba- Roquelina dos Santos e Ananias Reis- Foto: Gilsimara Cardoso

A bateria do carro é a fonte de energia, a qual fornece luz moderadamente, é preciso economizar, porque também será utilizada no veiculo para a viagem de volta.

O sono chega cedo, por volta das 19h. Todos já estão na cama. O primeiro dia é um pouco estranho, para nós que vivemos essa era da tecnologia e de autoconsumo da internet. Se desconectar é estranho.

Na primeira manhã, os pássaros começaram a cantar bem cedo, por volta das 4h30. O cheiro do café foi o melhor convite para iniciarmos o dia de trabalho.

Raquel se preparou para ir no mangue, colocamos o sapato e partimos. Dessa vez, não foi possível mariscar, a maré estava alta, então fomos passear de barco pelo mangue.

Conhecer a fauna de um habitat que abriga diversas espécies.

Maré alta, mangue de Matarandiba- Matangi- Foto: Gilsimara Cardoso

Não tivemos sorte, com a maré alta, poucos animais se arriscam nas águas. Conseguimos avistar de longe três espécies de flamingos e alguns aratus.

O marido de Raquel, o senhor Ananias foi pescar durante a noite com outros pescadores, trouxe alguns peixes para casa.

Por volta das 11h, retornamos para o barraco, no caminho já sentimos o cheiro da moqueca. Todo o almoço foi feito no fogão de lenha, feijão, arroz e a moqueca de peixe, tudo fresquinho. O tempero de Ananias superou o trabalho, o sol, as ostras e o sururu.

Moqueca de peixe, feita por Ananias Reis, no Matangi . Foto: Gilsimara Cardoso

Neste segundo dia, fomos no mangue cedo mariscar e retirar as gaiolas, a maré baixou, nos deparamos com dois siris, que tentaram fugir o tempo todo. o Siri adulto mede cerca de 20cm, Se movimenta com habilidade no mangue, anda tanto para trás quanto para os lados, usando suas patas, as quais são utilizadas também como defesa contra predadores.

Siri do mangue- Foto: Gilsimara Cardoso

Raquel mostrou como a retirada das ostras é perigosa, os cuidados para não quebrar a casca na hora de retirar. Percebemos o quanto o valor do kg do marisco é barato, somente depois de acompanharmos de perto o percurso até chegar na nossa mesa. “ o kg do sururu é R$60, para pegar um kg é necessário um dia inteiro de trabalho, ah, ainda temos que ferventar e tirar de dentro da casca. “ Concluiu Raquel.

Assista um pouco mais sobre o mangue.

Produção e edição – Jornal Atualize

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